domingo, 26 de novembro de 2017

Semelhança


quando alguém reparte conosco
o que vivemos
com olhos generosos não julga
e ri de nossas bobagens
quando alguém é leve
senta-se ao nosso lado
e suave começa uma conversa qualquer
o semelhante cura o semelhante
a vida leve o amor preenche
é ótimo ter amigo tão próximo
o amor é uma relação
de semelhança 


                                                         Igor Zanoni

sábado, 25 de novembro de 2017

Corja



quando eu era moleque meus amigos e assumidos meninos de rua conheciam os passarinhos pelo canto. sabiam prender em alçapões e visgo de jaca e colocar em gaiolas os canários e com um estilingue matar pardais, que detestavam, acho que por um tempo em que eles destruíam plantações que já não havia naquela Campinas que se urbanizava rápido. matavam, limpavam e comiam, fritos em uma frigideira. também no seu tempo os içás com sua bunda gorda iam para a frigideira, não me lembro como eram caçados mas lembro de nuvens de içás nas ruas. vida de menino e de moleque. eu mais espiava que participava, não conhecia seus palavrões nem sabia jogar bola como eles. mas fazia o possível para manter uma distância adequada entre a vigilância dos meus pais e a admiração por aquela corja.


                                                                         Igor Zanoni  

Em má companhia



na estória a cidade é muito pequena e pobre, com uma grande legião de mendigos vivendo de pequenos furtos e outros expedientes e algumas pessoas mais bem situadas, como o pai do pequeno Vássia, que é juiz. os mendigos em parte vivem no castelo semidestruído que há na ilha em meio ao pântano, em parte nas ruas, como podem. alguns, como os irmãos Valek e Marússia, vivem em um esconderijo com adultos que os protegem, também muito pobres, perto da igreja também semidestruída ao lado do cemitério de tumbas semiabertas. essa gente pobre é considerada “má companhia”, e é nela que Vássia encontra os irmãos que toma como amigos. a cidade é uma das muitas pequenas localidades entre a antiga Polônia e a Rússia, seus personagens são judeus, poloneses, ucranianos, vivendo da mão para a boca. aí transcorre “Em má companhia”, de Wladimir Korolenko (1853-1921), livro de uma densidade poética singular, tanto por sua trama de aventuras infantis, centrada nas relações entre os garotos ema localidade semi medieval, quanto por sua linguagem. seu vocabulário é singular e o livro se concentra em palavras como madressilvas, cerejeiras, lilases, verdura, capela, lápides, musgo, sussurro, pátio, neblina, centelha,, vida, dando conta de uma vida há muito perdida, mas não nas histórias que assim nos ficaram, limpas, calorosas, de um mundo que não voltaremos a conhecer senão por elas.


                                                                   Igor Zanoni       

quarta-feira, 22 de novembro de 2017

Rolling Stone


um negócio só é um ótimo negócio
para o seu dono
o empregado só tem de cuidar
para não adoecer
não brigar com os colegas
acordar cedo
se puder ir à escola
cuidar dos filhos
colocar os gastos na ponta do lápis
pagar todo o cartão de crédito
um empregado vai daqui para ali
quem sabe quanto tempo
dura no emprego?
o melhor é sempre ficar esperto
para o patrão
pedra que rola não cria limo


                                                                           Igor Zanoni

Persuasão


ele não é tudo isso
mas se acha
ele é um completo cretino
o que fazer?
sempre temos amigos inconvenientes
mas que são amigos
dizem que quando trabalhamos muito tempo
perto de alguém
seja como for
nós nos tornamos amigos
este é o poder da persuasão
que mesmo os mais inconvenientes possuem
mesmo um cretino
possui esse dom
de se insinuar
e acabamos gostando do cara


                                                            Igor Zanoni