quinta-feira, 30 de maio de 2019

Enterro Celestial, de Xinran


a jornalista Xinran, que apresentava em Nanquim um programa de rádio voltado para conhecer aspectos da vida das mulheres chinesas, conheceu em 1994 uma mulher já idosa que fora médica do Exército Popular de Libertação e voltava de uma estadia de 30 anos no Tibete.  Xinran manteve com ela uma longa conversa durante alguns dias, na qual a médica, Shu Wen, contou a história de sua vida. Depois disso a jornalista estudou durante alguns anos a cultura, a religião e a história das relações entre a China e o Tibete, buscando compreender melhor o relato de Shu Wen. O resultado foi um livro, publicado apenas em 2004 na Inglaterra, para onde Xinran havia se mudado, Enterro Celestial. Shu Wen fora casada no início dos 60 com um médico do ELP que havia sido enviado para o Tibete, mas pouco depois o rapaz morreu sem que as sua morte ficasse esclarecida. A médica decidiu então procurar o marido e parte em uma longa jornada em busca do marido. Acaba permanecendo trinta anos na região, só voltando quando encontra notícia de como se deu a morte de seu marido. O livro narra essa história de amor, ao mesmo tempo em que narra muito sobre a vida das populações remotas da região, as relações entre o Tibete e a China e as transformações que a região sofre sob o domínio chinês. O relato é equilibrado, bastante simpático ao budismo tibetano e às ásperas condições de vida das populações nômades, ao mesmo tempo em que ressalva as intenções da China de melhorar a situação de pobreza e atraso no Tibete. O enterro celestial era uma prática budista de oferecer o corpo dos mortos às aves sagradas das montanhas, como abutres. O marido que Shu Wen procurava havia morrido voluntariamente para melhorar as relações entre tibetanos e chineses em certa região e recebido esta forma de enterro.

                                                            Igor Zanoni

segunda-feira, 27 de maio de 2019

Vermelho


um dia quis entrar no Konsomol
opressores tremei
diante deste rapaz magrinho
coberto de suas razões
a grande mãe Rússia é sedutora
convocam seu apoio
Taras Bulba e Os Cossacos
com minha barba crescida
meu ar incisivo
gritei ao meu coração
liberdade!
 para você meu coração também!
no céu a estrela vermelha

                                               Igor Zanoni

sábado, 25 de maio de 2019

Ode para o nariz


noites de chuvas são escuras
nem lua nem estrelas
nenhum cão atravessa a rua
tranco portas e janelas
metido só comigo
nem penso numa noite assim
tão assombrada
por o nariz fora de casa

                                           Igor Zanoni

sexta-feira, 24 de maio de 2019

Pandora

o complexo em si não é mau
não se pode pensar e ser simplório
mas os descaminhos do mundo
envolvem a mente mais severa
não se sabe encontrar o fio de Ariadne
quando Pandora abre sua caixa
o que vive depende de tudo mais que vive
podemos traçar com isso imagens amorosas
ou ao contrário nos perder em desalento
tolice desejar uma felicidade modesta
mas a razão pode fugir
e a alma perder sua pureza
seja naquele que quer abraçar o mundo
seja naquele que quer deixá-lo
onde então colocar a tal felicidade?


                                                Igor Zanoni

quinta-feira, 23 de maio de 2019

Twiter


buscando caminhos para si
onde eles encontrarão lugar
para o outro?
a voz do outro será ouvida
em seu timbre e altura?
cartas e mensagens
íntimas vivas cruciais
correrão o mundo
falando de bondade e amor
ou frases mortas
ditas por mortos?
pois há mortes que percorrem o whatsapp
a morte cega envia seu twiter

                                                            Igor Zanoni