quarta-feira, 18 de junho de 2025

Refúgio


A não ser pelo contato genérico

Que uma casa supõe

Ou uma vizinhança

Ou as notícias do jornal do meio-dia

As pessoas são invisíveis

Umas para as outras

Desconhecemos sua intimidade

Até porque ela não é dada

Mas oculta como um refúgio

Precisamos dele

Não queremos ser invadidos

 

                                                 Igor Zanoni 

segunda-feira, 16 de junho de 2025

Apocaliptico


1

Menino, em minha oração noturna

Pedia que Jesus voltasse logo

Para que eu não tivesse de morrer

E pudesse recebê-lo entre as nuvens

Eu era uma criança escatológica

E apocalíptica

 

2

Acima de nós há o céu

Com suas nuvens a lua o sol as estrelas

Acima desse céu há outros céus

Os que a James Webb e a Voyager

Podem espreitar e os que não podem

Os céus não têm limites

Como o Senhor não tem limite nem lugar

E está em toda parte

Menos parece entre nós

 

                                                                   Igor Zanoni

  

domingo, 15 de junho de 2025

Ambiente


É claro que devemos orar

Pelos inimigos

E pelos que não conhecemos

Eles estão à nossa volta

Fazem parte do ambiente exterior

No qual mergulhamos

O clima que percebemos

Sem nos darmos sempre

Muita conta

 

                                                           Igor Zanoni 

sábado, 14 de junho de 2025

A alegria


João Batista vestia-se com peles rústicas

Comia gafanhotos e mel silvestre

Sua missão era pregar o arrependimento

Na expectativa do Reino do Céu

Seu primo Jesus ao contrário era visto

Como um glutão e bebedor de vinho

Pelos fariseus

Seu primeiro milagre foi transformar

Água em bom vinho

Também pregava o arrependimento

Também anunciava o Reino do Céu

Mas o fazia de um modo alegre

Pois para ele o Reino do Céu não estava

Em um futuro remoto

Antes começava aqui

E iria se desenvolver a cada dia

Como o fermento prepara o pão

Sua alegria vinha de ser um noivo

Como o qual seus seguidores 

Deviam festejar

Os dois primos se aproximavam

Mas ao mesmo tempo

Como eram distintos!

 

                                                       Igor Zanoni

  

sexta-feira, 13 de junho de 2025

Contato


Uma pessoa tosca não encontra

O caminho para um abraço

Não que tenha medo

Que não queira se comprometer

Ela apenas não é carinhosa

Seu sorriso é escasso

Não sente como é bom o contato

Apertar outro corpo em seu corpo

Em seu íntimo sente falta

Desta cumplicidade

Mas é bem guardada

A sua confiança

Como um segredo um mistério

 

                                                          Igor Zanoni 

quinta-feira, 12 de junho de 2025

Escorregadio


Você diz

Por outro lado

Não obstante

Entretanto

Não pode ser

Mais conclusivo?

 

                                                 Igor Zanoni

  

quarta-feira, 11 de junho de 2025

Medo


Não posso sair de mim

Quem me fez prisioneiro

Conhecia muito bem

Meu medo

Nas ruas há a vida medíocre

Sol pessoas cães

Requerem uma atenção

Doentia

 

                                     Igor Zanoni 

terça-feira, 10 de junho de 2025

À nossa vida


Nós somos contraditórios

Não há mal nisso nem dificuldade

Esta é uma exigência do coração

Para que possamos nos lançar

À nossa vida

No que queremos que ela seja

 

                                          Igor Zanoni 

sábado, 7 de junho de 2025

A alegria


Quando a maior porção de nossa vida

É a melancolia

E sentimos vontade de, como a Mafalda,

Colocar ataduras no mundo

Nossa percepção do sagrado se dilui

Para este é preciso haver certa alegria

Certa segurança

Desejamos abandonar a apreensão

Sorrir como os palhaços

E os golfinhos

Ver o sagrado na flora

Nas rosas

Bem como nos pássaros que nos cercam

Nos parques de Curitiba

Há tantas pessoas em volta

Que não nos façam mal

Há tantas moças bonitas

É preciso apreender seu sorriso

Que dura um minuto inesquecível

Aí reside a beleza das criaturas do Senhor

 

                                                            Igor Zanoni 

sexta-feira, 6 de junho de 2025

Quando os filhos crescem


Quando os filhos se tornam adultos

Mas ainda não nos sentimos velhos

A proximidade entre nós aumenta

A conversa é mais madura

A sua dependência de nós se reduz

Podemos nos ver como pais e amigos

Ou filhos e amigos

Esse talvez seja o melhor período

Da paternidade

Combinamos passeios almoços

Somos todos mais independentes

Mas ainda muito próximos

Nunca nosso carinho foi tão claro

 

                                                            Igor Zanoni 

quinta-feira, 5 de junho de 2025

Clarete


Mesmo aos amores não correspondidos

Deve-se ser agradecido

Eles nos lembram de que somos vivos

E a vida não é uma festa permanente

Nosso coração tem inúmeras salas

Onde festejar e chorar

Os meandros de nosso coração

Sempre surpreendem

E às vezes são duros e difíceis

Paciência brindemos ao que vem

Quando a desilusão espreita

Lembremos Era uma ilusão

Escolhamos uma nova garrafa de clarete

 

                                                        Igor Zanoni 

quarta-feira, 4 de junho de 2025

Pão


Esta refeição que agora tomo

Chamo simbolicamente pão

Peço ao Senhor que nos dê

O pão que comeremos amanhã

Quando Ele vier de novo

 

                                                  Igor Zanoni 

terça-feira, 3 de junho de 2025

Vidamorte


É claro que não se passa incólume

Pela vida

Ela é a história das nossas vicissitudes

Mesmo que não sejam sempre conscientes

Podem se esconder na carne

Algo acontece e seus desdobramentos

Podem ser imediatos ou levar anos

Para se manifestar

Temos nossa porção de alegria

E de sofrimento

Nem sempre na mesma proporção

De qualquer forma vivemos agora

Do que antes vivemos

E disto morreremos

Que a vida contém a morte

Para cada um de uma certa maneira

 

                                                                  Igor Zanoni 

segunda-feira, 2 de junho de 2025

Incompatibilidade de gênios


Eu e o pároco somos muito diferentes

Ele não conhece meus desejos

Nunca foi a um psicólogo

E sua devoção é toda para a Mãe da Igreja

Eu não entendo seus sermões

Nem ele minhas confissões

 

                                              Igor Zanoni 

domingo, 1 de junho de 2025

Homem do tempo


O homem do tempo nunca anuncia

Uma primavera de luz que dure eternamente

E que faça meu coração serenar

Anuncia o que sabemos o tempo vário

Sol chuva frentes frias em sucessão

Primaveras amarelas do pólen dos arbustos

O homem do tempo ocupa um pequeno espaço

No jornal

Entre notícias políticas e de acidentes

Nada que eu tolere muito bem

Notícias inúteis neste mundo tosco

Homem do tempo você parece

Um comercial de guarda-chuva ou de sabão

Para mim nada de valor

Nem você nem o jornal nem a tevê

 

                                                                  Igor Zanoni