O mundo não lhe
chama
De meu bem
Ele opõe refuta
nega
De quem é a culpa?
Sua naturalmente
A vida não é turismo
Com todas as
despesas pagas
Igor Zanoni
O mundo não lhe
chama
De meu bem
Ele opõe refuta
nega
De quem é a culpa?
Sua naturalmente
A vida não é turismo
Com todas as
despesas pagas
Igor Zanoni
A veracidade dos
relatos sobre Jesus nos evangelhos tem sido um ponto central na pesquisa sobre
o Novo Testamento. O teólogo, médico e missionário na selva africana Albert
Schweitzer afirmou no início do século XX que não houve um Jesus histórico, mas
que o espírito de Jesus está vivo e atuante no mundo. Foi com esse espírito que
ele partiu para o Gabão francês onde construiu hospital e tratou dos afetados
pela doença do sono, chegando a descobrir seu vetor. Por sua vez, o teólogo brasileiro Leonardo
Boff escreveu que mais importante que a ortodoxia nas questões da fé é uma
prática correta dos cristãos no mundo, voltada em especial para os pobres. Este
seria o espírito de Jesus e deveria ser o centro da vida da igreja em países
como os latino-americanos, marcados pela pobreza, a dependência e a
desigualdade social.
Igor Zanoni
O desânimo dos
seguidores de Jesus foi substituído por alegria no domingo de Páscoa, quando o
Seu túmulo foi encontrado vazio e um anjo lhes contou que Ele ressuscitara.
Jesus foi encontrado em várias ocasiões depois disso, e finalmente encontrado
por Paulo na estrada de Damasco. Ocorrem então os eventos da ascensão e a
promessa de que Ele voltaria um dia para inaugurar o Reino dos Céus e o Juízo.
A comunidade passa então a esperá-Lo para breve, mas o tempo passa e a
expectativa da volta do Messias cede lugar à convicção de que essa volta
ocorreria quando o evangelho do Reino fosse pregado a todas as nações. As
escrituras não falam de um Messias que voltaria, e todos esses episódios foram
muito discutidos por estudiosos ligados à escola liberal no século XIX, negando
mesmo a morte e ressurreição do Cristo. Mas eles ficaram como peças-chave na
compreensão do mistério de Jesus e a chave da compreensão da vida do Messias.
Ao mesmo tempo começa um grande esforço missionário na bacia do Mediterrâneo, e
a comunidade primitiva se compreende como igreja, sob liderança inicial de
Pedro e de Tiago irmão de Jesus. Paulo logo se torna o apóstolo dos gentios,
iniciando uma elaborada teologia centrada na fé no Cristo morto por nossos
pecados e ressurrecto.
Igor Zanoni
É evidente que a
crítica de Jesus ao formalismo da lei tal como a compreendiam os escribas e
fariseus e à venalidade dos sacerdotes no Templo atraíram sua ira sobre Jesus.
A época era violenta, muitas pessoas morriam na cruz, que era o instrumento
preferido de castigo aos criminosos pelos romanos. Mas Jesus sabia disso,
pode-se dizer que Ele escolheu mesmo Seu destino, ainda que não compreendido
pelos que o seguiam. A comunidade primitiva mesmo em tempos de Jesus vivo entre
ela começou a vê-lo como o próprio Messias, mas sua morte criou um mal-estar, o
escândalo da cruz: como poderia o Messias morrer dessa forma? Mas Ele começou a
ser visto com este episódio como um Messias sofredor de que fala o profeta
Isaias, que carregava os pecados do povo e morria em seu lugar. Ele foi visto
como um sacrifício final em um tempo em que os sacrifícios de animais era uma
parte da religião judaica. Esse mal-estar foi sucedido pela crença na
ressurreição de Jesus, que atestava a vitória sobre a morte e a vinda
definitiva do Reino. A vida de Jesus foi explicada pela comunidade em termos de
passagens dos profetas como Isaias e Daniel, e palavras de Jesus foram
colecionadas e lembradas nesses termos. Ele era o Filho de Deus que viera ao
mundo para livrar o povo de seus pecados e criar para ele uma vida nova e
plena.
Igor Zanoni
Jesus foi batizado
no rio Jordão por João Batista, quando provavelmente ficou mais clara para Ele
sua tarefa. Os evangelhos contam que neste momento Ele percebeu ser Ele próprio
o Messias, o que pode atestar sobretudo a fé da igreja primitiva. Depois de um
período só, em que auscultou qual era sua vocação e sua natureza, e que os
evangelhos contam como sendo suas tentações no deserto, Jesus reuniu um grupo
de seguidores e partiu em viagem por todo o Israel, abandonando sua família.
Começava aí o período de sua pregação, que durou pouco mais de um ano segundo
Marcos. Nesse período Ele não só ensinou, muitas vezes utilizando forma de
poesia chamadas parábola, como realizou milagres como a multiplicação dos pães,
o caminhar sobre a água ao encontro dos discípulos na barca, curou cegos e
paralíticos, libertou pessoas de seus demônios, ressuscitou o amigo Lázaro e
outras manifestações que eram símbolos já do Reino de Deus vindouro. No nosso
tempo científico e mais racional é difícil entender literalmente todas essas manifestações.
Mas elas ficaram nos evangelhos como um testemunho de fé da comunidade
primitiva, que se reuniu ao seu redor e continuou suas tarefas após sua morte.
O importante é perceber que elas eram um sinal do Reino, que começava pequeno,
mas em breve se manifestaria plenamente.
Igor Zanoni
Os estudiosos
discutem há muito se Jesus se apresentou Ele mesmo como o Messias ou se esta
foi uma crença desenvolvida na igreja primitiva após a sua ressurreição. De
qualquer modo, o Messias que ele esperava não era um Messias político, da
linhagem do grande rei Davi, mas, inspirado em passagens dos grandes profetas,
era um Messias humilde capaz de colocar fim a este mundo pecaminoso e inaugurar
o Reino de Deus. A mensagem que Jesus trazia era essencialmente ética, posto
que inspirada em passagem do livro de Levítico que afirma ser a essência dos
mandamentos o amor a Deus e ao próximo. Assim, a Lei judaica, herdada dos
tempos mosaicos e muito adulterada com o tempo, era contraposta por Ele a essa ética.
Ela era vista como um ritualismo que escondia a própria essência do amor que se
constituía no cerne da Lei, e esse ritualismo atingia os piedosos fariseus e os
sacerdotes. Essa ética de Jesus era já ensinada por alguns rabinos importantes,
e Ele com certeza conhecia tais ensinamentos. O Messias viria em um dia que só
Deus conhecia, com poder sobre as nuvens do céu, inaugurar um novo tempo e a
preparação para tão grande evento era o cultivo dessa ética, que começava com o
arrependimento.
Igor Zanoni
Não sabemos quase
nada de Jesus no longo período anterior ao de sua pregação. Sabemos que ele se
perdeu dos pais voltando de Jerusalém para a Galileia, e foi encontrado no
templo discutindo com brilho sobre a escritura com eruditos. Ele era um menino,
ou um jovem adolescente. Certamente deve ter sido um discípulo de rabinos em
uma sinagoga, lendo a escritura com atenção e procurando ver como sua vida e a
de seu povo tinham a ver com ela. Quando começou mais tarde sua pregação,
próximo de seu primo João Batista, proclamou como este um tempo de arrependimento
e a proximidade do reino de Deus. Sua mensagem era escatológica, e exortava
sobre um tempo futuro, de vinda do Messias, e que estava por acontecer em
breve. Havia uma escatologia judaica, e uma ansiedade sobre a vinda de um
Messias filho de Davi que livraria o povo de sua dominação política. Jesus
estava perto dessas expectativas, tão perto quanto João Batista.
Igor Zanoni
Examinando a pesquisa
da teologia desde o final do século XIX sobre o Jesus histórico, e as diversas
Vida de Jesus escritas no período, em sua tese de doutoramento Albert Schweitzer
conclui que não houve um Jesus histórico, que tenha feito milagres e pregado a
vinda do Reino de Deus. Embora o espírito de Jesus seja forte no mundo, sua
vida enquanto homem foi uma construção da pregação original da igreja
primitiva. Nesta pregação original deve se basear a fé. O período em que ela
foi formada foi pré-científico e as vidas de Jesus se baseiam em mitologia e
construções literárias. Não se pode pois viver no nosso tempo e crer em
milagres e outros relatos dos evangelhos como dados históricos. Esta conclusão
de Schweitzer é importante e vai contra a posição da teologia liberal, que
busca amparar a fé em primeiro lugar em dados históricos. Uma conclusão semelhante
se poderá encontrar em Bultmann em sua teologia do Novo Testamento. Embora
sejam posições radicais as desses autores, elas são importantes na medida em
que remetem à fé da igreja primitiva e ao Jesus da fé.
Autores subsequentes
serão menos radicais ao procurar resgatar ao lado do Jesus da fé o Jesus
histórico, mas a pesquisa de Schweitzer abre novas pesquisas para a teologia do
século XX e para a busca da mensagem da igreja cristã primitiva, voltando-se a
Paulo e ao evangelho de João em especial.
Igor Zanoni
Lembro bem o som
do compressor de ar
No consultório de
meu pai
Uma lembrança quieta
Nas camadas
arqueológicas do sentimento
A tarde imóvel do
Castelo
Eu para sempre
aquele menino
Igor Zanoni
A não ser pelo
contato genérico
Que uma casa supõe
Ou uma vizinhança
Ou as notícias do
jornal do meio-dia
As pessoas são
invisíveis
Umas para as
outras
Desconhecemos sua
intimidade
Até porque ela não
é dada
Mas oculta como um
refúgio
Precisamos dele
Não queremos ser
invadidos
Igor Zanoni
1
Menino, em minha
oração noturna
Pedia que Jesus
voltasse logo
Para que eu não
tivesse de morrer
E pudesse recebê-lo
entre as nuvens
Eu era uma criança
escatológica
E apocalíptica
2
Acima de nós há o
céu
Com suas nuvens a
lua o sol as estrelas
Acima desse céu há
outros céus
Os que a James
Webb e a Voyager
Podem espreitar e os
que não podem
Os céus não têm
limites
Como o Senhor não
tem limite nem lugar
E está em toda
parte
Menos parece entre
nós
Igor Zanoni
É claro que
devemos orar
Pelos inimigos
E pelos que não
conhecemos
Eles estão à nossa
volta
Fazem parte do
ambiente exterior
No qual
mergulhamos
O clima que
percebemos
Sem nos darmos
sempre
Muita conta
Igor Zanoni
João Batista
vestia-se com peles rústicas
Comia gafanhotos e
mel silvestre
Sua missão era
pregar o arrependimento
Na expectativa do
Reino do Céu
Seu primo Jesus ao
contrário era visto
Como um glutão e
bebedor de vinho
Pelos fariseus
Seu primeiro
milagre foi transformar
Água em bom vinho
Também pregava o
arrependimento
Também anunciava o
Reino do Céu
Mas o fazia de um
modo alegre
Pois para ele o
Reino do Céu não estava
Em um futuro
remoto
Antes começava
aqui
E iria se
desenvolver a cada dia
Como o fermento
prepara o pão
Sua alegria vinha
de ser um noivo
Como o qual seus
seguidores
Deviam festejar
Os dois primos se
aproximavam
Mas ao mesmo tempo
Como eram
distintos!
Igor Zanoni
Uma pessoa tosca
não encontra
O caminho para um
abraço
Não que tenha medo
Que não queira se
comprometer
Ela apenas não é
carinhosa
Seu sorriso é
escasso
Não sente como é
bom o contato
Apertar outro
corpo em seu corpo
Em seu íntimo
sente falta
Desta cumplicidade
Mas é bem guardada
A sua confiança
Como um segredo um
mistério
Igor Zanoni
Você diz
Por outro lado
Não obstante
Entretanto
Não pode ser
Mais conclusivo?
Igor Zanoni
Não posso sair de
mim
Quem me fez
prisioneiro
Conhecia muito bem
Meu medo
Nas ruas há a vida
medíocre
Sol pessoas cães
Requerem uma
atenção
Doentia
Igor Zanoni
Nós somos
contraditórios
Não há mal nisso
nem dificuldade
Esta é uma
exigência do coração
Para que possamos
nos lançar
À nossa vida
No que queremos
que ela seja
Igor Zanoni
Quando a maior
porção de nossa vida
É a melancolia
E sentimos vontade
de, como a Mafalda,
Colocar ataduras
no mundo
Nossa percepção do
sagrado se dilui
Para este é
preciso haver certa alegria
Certa segurança
Desejamos
abandonar a apreensão
Sorrir como os
palhaços
E os golfinhos
Ver o sagrado na
flora
Nas rosas
Bem como nos
pássaros que nos cercam
Nos parques de
Curitiba
Há tantas pessoas
em volta
Que não nos façam
mal
Há tantas moças
bonitas
É preciso
apreender seu sorriso
Que dura um minuto
inesquecível
Aí reside a beleza
das criaturas do Senhor
Igor Zanoni
Quando os filhos
se tornam adultos
Mas ainda não nos
sentimos velhos
A proximidade
entre nós aumenta
A conversa é mais
madura
A sua dependência
de nós se reduz
Podemos nos ver
como pais e amigos
Ou filhos e amigos
Esse talvez seja o
melhor período
Da paternidade
Combinamos
passeios almoços
Somos todos mais
independentes
Mas ainda muito
próximos
Nunca nosso
carinho foi tão claro
Igor Zanoni
Mesmo aos amores
não correspondidos
Deve-se ser
agradecido
Eles nos lembram
de que somos vivos
E a vida não é uma
festa permanente
Nosso coração tem
inúmeras salas
Onde festejar e
chorar
Os meandros de
nosso coração
Sempre surpreendem
E às vezes são
duros e difíceis
Paciência
brindemos ao que vem
Quando a desilusão
espreita
Lembremos Era uma
ilusão
Escolhamos uma
nova garrafa de clarete
Igor Zanoni
Esta refeição que
agora tomo
Chamo
simbolicamente pão
Peço ao Senhor que
nos dê
O pão que
comeremos amanhã
Quando Ele vier de
novo
Igor Zanoni
É claro que não se
passa incólume
Pela vida
Ela é a história
das nossas vicissitudes
Mesmo que não
sejam sempre conscientes
Podem se esconder
na carne
Algo acontece e
seus desdobramentos
Podem ser
imediatos ou levar anos
Para se manifestar
Temos nossa porção
de alegria
E de sofrimento
Nem sempre na
mesma proporção
De qualquer forma
vivemos agora
Do que antes
vivemos
E disto morreremos
Que a vida contém
a morte
Para cada um de
uma certa maneira
Igor Zanoni
Eu e o pároco
somos muito diferentes
Ele não conhece
meus desejos
Nunca foi a um
psicólogo
E sua devoção é
toda para a Mãe da Igreja
Eu não entendo
seus sermões
Nem ele minhas
confissões
Igor Zanoni
O homem do tempo
nunca anuncia
Uma primavera de
luz que dure eternamente
E que faça meu
coração serenar
Anuncia o que
sabemos o tempo vário
Sol chuva frentes
frias em sucessão
Primaveras
amarelas do pólen dos arbustos
O homem do tempo
ocupa um pequeno espaço
No jornal
Entre notícias
políticas e de acidentes
Nada que eu tolere
muito bem
Notícias inúteis
neste mundo tosco
Homem do tempo
você parece
Um comercial de
guarda-chuva ou de sabão
Para mim nada de
valor
Nem você nem o
jornal nem a tevê
Igor Zanoni