domingo, 29 de junho de 2025

Turismo


O mundo não lhe chama

De meu bem

Ele opõe refuta nega

De quem é a culpa?

Sua naturalmente

A vida não é turismo

Com todas as despesas pagas

 

                                                 Igor Zanoni 

quarta-feira, 25 de junho de 2025

Quem foi Jesus Cristo? (final)


A veracidade dos relatos sobre Jesus nos evangelhos tem sido um ponto central na pesquisa sobre o Novo Testamento. O teólogo, médico e missionário na selva africana Albert Schweitzer afirmou no início do século XX que não houve um Jesus histórico, mas que o espírito de Jesus está vivo e atuante no mundo. Foi com esse espírito que ele partiu para o Gabão francês onde construiu hospital e tratou dos afetados pela doença do sono, chegando a descobrir seu vetor.  Por sua vez, o teólogo brasileiro Leonardo Boff escreveu que mais importante que a ortodoxia nas questões da fé é uma prática correta dos cristãos no mundo, voltada em especial para os pobres. Este seria o espírito de Jesus e deveria ser o centro da vida da igreja em países como os latino-americanos, marcados pela pobreza, a dependência e a desigualdade social.

 

                                                                Igor Zanoni 

terça-feira, 24 de junho de 2025

Quem foi Jesus Cristo? (5)


O desânimo dos seguidores de Jesus foi substituído por alegria no domingo de Páscoa, quando o Seu túmulo foi encontrado vazio e um anjo lhes contou que Ele ressuscitara. Jesus foi encontrado em várias ocasiões depois disso, e finalmente encontrado por Paulo na estrada de Damasco. Ocorrem então os eventos da ascensão e a promessa de que Ele voltaria um dia para inaugurar o Reino dos Céus e o Juízo. A comunidade passa então a esperá-Lo para breve, mas o tempo passa e a expectativa da volta do Messias cede lugar à convicção de que essa volta ocorreria quando o evangelho do Reino fosse pregado a todas as nações. As escrituras não falam de um Messias que voltaria, e todos esses episódios foram muito discutidos por estudiosos ligados à escola liberal no século XIX, negando mesmo a morte e ressurreição do Cristo. Mas eles ficaram como peças-chave na compreensão do mistério de Jesus e a chave da compreensão da vida do Messias. Ao mesmo tempo começa um grande esforço missionário na bacia do Mediterrâneo, e a comunidade primitiva se compreende como igreja, sob liderança inicial de Pedro e de Tiago irmão de Jesus. Paulo logo se torna o apóstolo dos gentios, iniciando uma elaborada teologia centrada na fé no Cristo morto por nossos pecados e ressurrecto.

 

                                                                          Igor Zanoni 

segunda-feira, 23 de junho de 2025

Quem foi Jesus Cristo? (4)


É evidente que a crítica de Jesus ao formalismo da lei tal como a compreendiam os escribas e fariseus e à venalidade dos sacerdotes no Templo atraíram sua ira sobre Jesus. A época era violenta, muitas pessoas morriam na cruz, que era o instrumento preferido de castigo aos criminosos pelos romanos. Mas Jesus sabia disso, pode-se dizer que Ele escolheu mesmo Seu destino, ainda que não compreendido pelos que o seguiam. A comunidade primitiva mesmo em tempos de Jesus vivo entre ela começou a vê-lo como o próprio Messias, mas sua morte criou um mal-estar, o escândalo da cruz: como poderia o Messias morrer dessa forma? Mas Ele começou a ser visto com este episódio como um Messias sofredor de que fala o profeta Isaias, que carregava os pecados do povo e morria em seu lugar. Ele foi visto como um sacrifício final em um tempo em que os sacrifícios de animais era uma parte da religião judaica. Esse mal-estar foi sucedido pela crença na ressurreição de Jesus, que atestava a vitória sobre a morte e a vinda definitiva do Reino. A vida de Jesus foi explicada pela comunidade em termos de passagens dos profetas como Isaias e Daniel, e palavras de Jesus foram colecionadas e lembradas nesses termos. Ele era o Filho de Deus que viera ao mundo para livrar o povo de seus pecados e criar para ele uma vida nova e plena.

 

                                                                         Igor Zanoni 

domingo, 22 de junho de 2025

Quem foi Jesus Cristo? (3)


Jesus foi batizado no rio Jordão por João Batista, quando provavelmente ficou mais clara para Ele sua tarefa. Os evangelhos contam que neste momento Ele percebeu ser Ele próprio o Messias, o que pode atestar sobretudo a fé da igreja primitiva. Depois de um período só, em que auscultou qual era sua vocação e sua natureza, e que os evangelhos contam como sendo suas tentações no deserto, Jesus reuniu um grupo de seguidores e partiu em viagem por todo o Israel, abandonando sua família. Começava aí o período de sua pregação, que durou pouco mais de um ano segundo Marcos. Nesse período Ele não só ensinou, muitas vezes utilizando forma de poesia chamadas parábola, como realizou milagres como a multiplicação dos pães, o caminhar sobre a água ao encontro dos discípulos na barca, curou cegos e paralíticos, libertou pessoas de seus demônios, ressuscitou o amigo Lázaro e outras manifestações que eram símbolos já do Reino de Deus vindouro. No nosso tempo científico e mais racional é difícil entender literalmente todas essas manifestações. Mas elas ficaram nos evangelhos como um testemunho de fé da comunidade primitiva, que se reuniu ao seu redor e continuou suas tarefas após sua morte. O importante é perceber que elas eram um sinal do Reino, que começava pequeno, mas em breve se manifestaria plenamente.

 

                                                                       Igor Zanoni 

sábado, 21 de junho de 2025

Quem foi Jesus Cristo?


Os estudiosos discutem há muito se Jesus se apresentou Ele mesmo como o Messias ou se esta foi uma crença desenvolvida na igreja primitiva após a sua ressurreição. De qualquer modo, o Messias que ele esperava não era um Messias político, da linhagem do grande rei Davi, mas, inspirado em passagens dos grandes profetas, era um Messias humilde capaz de colocar fim a este mundo pecaminoso e inaugurar o Reino de Deus. A mensagem que Jesus trazia era essencialmente ética, posto que inspirada em passagem do livro de Levítico que afirma ser a essência dos mandamentos o amor a Deus e ao próximo. Assim, a Lei judaica, herdada dos tempos mosaicos e muito adulterada com o tempo, era contraposta por Ele a essa ética. Ela era vista como um ritualismo que escondia a própria essência do amor que se constituía no cerne da Lei, e esse ritualismo atingia os piedosos fariseus e os sacerdotes. Essa ética de Jesus era já ensinada por alguns rabinos importantes, e Ele com certeza conhecia tais ensinamentos. O Messias viria em um dia que só Deus conhecia, com poder sobre as nuvens do céu, inaugurar um novo tempo e a preparação para tão grande evento era o cultivo dessa ética, que começava com o arrependimento.

 

                                                           Igor Zanoni 

sexta-feira, 20 de junho de 2025

Quem foi Jesus Cristo? (1)


Não sabemos quase nada de Jesus no longo período anterior ao de sua pregação. Sabemos que ele se perdeu dos pais voltando de Jerusalém para a Galileia, e foi encontrado no templo discutindo com brilho sobre a escritura com eruditos. Ele era um menino, ou um jovem adolescente. Certamente deve ter sido um discípulo de rabinos em uma sinagoga, lendo a escritura com atenção e procurando ver como sua vida e a de seu povo tinham a ver com ela. Quando começou mais tarde sua pregação, próximo de seu primo João Batista, proclamou como este um tempo de arrependimento e a proximidade do reino de Deus. Sua mensagem era escatológica, e exortava sobre um tempo futuro, de vinda do Messias, e que estava por acontecer em breve. Havia uma escatologia judaica, e uma ansiedade sobre a vinda de um Messias filho de Davi que livraria o povo de sua dominação política. Jesus estava perto dessas expectativas, tão perto quanto João Batista.  

 

                                                              Igor Zanoni 

O Jesus histórico


Examinando a pesquisa da teologia desde o final do século XIX sobre o Jesus histórico, e as diversas Vida de Jesus escritas no período, em sua tese de doutoramento Albert Schweitzer conclui que não houve um Jesus histórico, que tenha feito milagres e pregado a vinda do Reino de Deus. Embora o espírito de Jesus seja forte no mundo, sua vida enquanto homem foi uma construção da pregação original da igreja primitiva. Nesta pregação original deve se basear a fé. O período em que ela foi formada foi pré-científico e as vidas de Jesus se baseiam em mitologia e construções literárias. Não se pode pois viver no nosso tempo e crer em milagres e outros relatos dos evangelhos como dados históricos. Esta conclusão de Schweitzer é importante e vai contra a posição da teologia liberal, que busca amparar a fé em primeiro lugar em dados históricos. Uma conclusão semelhante se poderá encontrar em Bultmann em sua teologia do Novo Testamento. Embora sejam posições radicais as desses autores, elas são importantes na medida em que remetem à fé da igreja primitiva e ao Jesus da fé.

Autores subsequentes serão menos radicais ao procurar resgatar ao lado do Jesus da fé o Jesus histórico, mas a pesquisa de Schweitzer abre novas pesquisas para a teologia do século XX e para a busca da mensagem da igreja cristã primitiva, voltando-se a Paulo e ao evangelho de João em especial.

 

                                                           Igor Zanoni 

quinta-feira, 19 de junho de 2025

Arqueologia


Lembro bem o som do compressor de ar

No consultório de meu pai

Uma lembrança quieta

Nas camadas arqueológicas do sentimento

A tarde imóvel do Castelo

Eu para sempre aquele menino

 

 

                                                             Igor Zanoni

  

quarta-feira, 18 de junho de 2025

Refúgio


A não ser pelo contato genérico

Que uma casa supõe

Ou uma vizinhança

Ou as notícias do jornal do meio-dia

As pessoas são invisíveis

Umas para as outras

Desconhecemos sua intimidade

Até porque ela não é dada

Mas oculta como um refúgio

Precisamos dele

Não queremos ser invadidos

 

                                                 Igor Zanoni 

segunda-feira, 16 de junho de 2025

Apocaliptico


1

Menino, em minha oração noturna

Pedia que Jesus voltasse logo

Para que eu não tivesse de morrer

E pudesse recebê-lo entre as nuvens

Eu era uma criança escatológica

E apocalíptica

 

2

Acima de nós há o céu

Com suas nuvens a lua o sol as estrelas

Acima desse céu há outros céus

Os que a James Webb e a Voyager

Podem espreitar e os que não podem

Os céus não têm limites

Como o Senhor não tem limite nem lugar

E está em toda parte

Menos parece entre nós

 

                                                                   Igor Zanoni

  

domingo, 15 de junho de 2025

Ambiente


É claro que devemos orar

Pelos inimigos

E pelos que não conhecemos

Eles estão à nossa volta

Fazem parte do ambiente exterior

No qual mergulhamos

O clima que percebemos

Sem nos darmos sempre

Muita conta

 

                                                           Igor Zanoni 

sábado, 14 de junho de 2025

A alegria


João Batista vestia-se com peles rústicas

Comia gafanhotos e mel silvestre

Sua missão era pregar o arrependimento

Na expectativa do Reino do Céu

Seu primo Jesus ao contrário era visto

Como um glutão e bebedor de vinho

Pelos fariseus

Seu primeiro milagre foi transformar

Água em bom vinho

Também pregava o arrependimento

Também anunciava o Reino do Céu

Mas o fazia de um modo alegre

Pois para ele o Reino do Céu não estava

Em um futuro remoto

Antes começava aqui

E iria se desenvolver a cada dia

Como o fermento prepara o pão

Sua alegria vinha de ser um noivo

Como o qual seus seguidores 

Deviam festejar

Os dois primos se aproximavam

Mas ao mesmo tempo

Como eram distintos!

 

                                                       Igor Zanoni

  

sexta-feira, 13 de junho de 2025

Contato


Uma pessoa tosca não encontra

O caminho para um abraço

Não que tenha medo

Que não queira se comprometer

Ela apenas não é carinhosa

Seu sorriso é escasso

Não sente como é bom o contato

Apertar outro corpo em seu corpo

Em seu íntimo sente falta

Desta cumplicidade

Mas é bem guardada

A sua confiança

Como um segredo um mistério

 

                                                          Igor Zanoni 

quinta-feira, 12 de junho de 2025

Escorregadio


Você diz

Por outro lado

Não obstante

Entretanto

Não pode ser

Mais conclusivo?

 

                                                 Igor Zanoni

  

quarta-feira, 11 de junho de 2025

Medo


Não posso sair de mim

Quem me fez prisioneiro

Conhecia muito bem

Meu medo

Nas ruas há a vida medíocre

Sol pessoas cães

Requerem uma atenção

Doentia

 

                                     Igor Zanoni 

terça-feira, 10 de junho de 2025

À nossa vida


Nós somos contraditórios

Não há mal nisso nem dificuldade

Esta é uma exigência do coração

Para que possamos nos lançar

À nossa vida

No que queremos que ela seja

 

                                          Igor Zanoni 

sábado, 7 de junho de 2025

A alegria


Quando a maior porção de nossa vida

É a melancolia

E sentimos vontade de, como a Mafalda,

Colocar ataduras no mundo

Nossa percepção do sagrado se dilui

Para este é preciso haver certa alegria

Certa segurança

Desejamos abandonar a apreensão

Sorrir como os palhaços

E os golfinhos

Ver o sagrado na flora

Nas rosas

Bem como nos pássaros que nos cercam

Nos parques de Curitiba

Há tantas pessoas em volta

Que não nos façam mal

Há tantas moças bonitas

É preciso apreender seu sorriso

Que dura um minuto inesquecível

Aí reside a beleza das criaturas do Senhor

 

                                                            Igor Zanoni 

sexta-feira, 6 de junho de 2025

Quando os filhos crescem


Quando os filhos se tornam adultos

Mas ainda não nos sentimos velhos

A proximidade entre nós aumenta

A conversa é mais madura

A sua dependência de nós se reduz

Podemos nos ver como pais e amigos

Ou filhos e amigos

Esse talvez seja o melhor período

Da paternidade

Combinamos passeios almoços

Somos todos mais independentes

Mas ainda muito próximos

Nunca nosso carinho foi tão claro

 

                                                            Igor Zanoni 

quinta-feira, 5 de junho de 2025

Clarete


Mesmo aos amores não correspondidos

Deve-se ser agradecido

Eles nos lembram de que somos vivos

E a vida não é uma festa permanente

Nosso coração tem inúmeras salas

Onde festejar e chorar

Os meandros de nosso coração

Sempre surpreendem

E às vezes são duros e difíceis

Paciência brindemos ao que vem

Quando a desilusão espreita

Lembremos Era uma ilusão

Escolhamos uma nova garrafa de clarete

 

                                                        Igor Zanoni 

quarta-feira, 4 de junho de 2025

Pão


Esta refeição que agora tomo

Chamo simbolicamente pão

Peço ao Senhor que nos dê

O pão que comeremos amanhã

Quando Ele vier de novo

 

                                                  Igor Zanoni 

terça-feira, 3 de junho de 2025

Vidamorte


É claro que não se passa incólume

Pela vida

Ela é a história das nossas vicissitudes

Mesmo que não sejam sempre conscientes

Podem se esconder na carne

Algo acontece e seus desdobramentos

Podem ser imediatos ou levar anos

Para se manifestar

Temos nossa porção de alegria

E de sofrimento

Nem sempre na mesma proporção

De qualquer forma vivemos agora

Do que antes vivemos

E disto morreremos

Que a vida contém a morte

Para cada um de uma certa maneira

 

                                                                  Igor Zanoni 

segunda-feira, 2 de junho de 2025

Incompatibilidade de gênios


Eu e o pároco somos muito diferentes

Ele não conhece meus desejos

Nunca foi a um psicólogo

E sua devoção é toda para a Mãe da Igreja

Eu não entendo seus sermões

Nem ele minhas confissões

 

                                              Igor Zanoni 

domingo, 1 de junho de 2025

Homem do tempo


O homem do tempo nunca anuncia

Uma primavera de luz que dure eternamente

E que faça meu coração serenar

Anuncia o que sabemos o tempo vário

Sol chuva frentes frias em sucessão

Primaveras amarelas do pólen dos arbustos

O homem do tempo ocupa um pequeno espaço

No jornal

Entre notícias políticas e de acidentes

Nada que eu tolere muito bem

Notícias inúteis neste mundo tosco

Homem do tempo você parece

Um comercial de guarda-chuva ou de sabão

Para mim nada de valor

Nem você nem o jornal nem a tevê

 

                                                                  Igor Zanoni