Não vou reproduzir a biografia de Florestan aqui. Apenas
direi que foi o maior sociólogo brasileiro, criando com os poucos instrumentos
teóricos existentes uma teoria de nossa formação e história social e política.
Estudou na primeira turma da faculdade de filosofia da então recém-inventada
Universidade de São Paulo, ao lado de Paulo Emílio Salles Gomes, Antonio Cândido,
Décio de Almeida Prado e nosso ex-presidente sociólogo FHC. Era pobre, estudou
e viveu com dificuldade, começando sua vida como engraxate. Muitas narrativas
sobre o período contrastam sua pobreza com a vida de classe média alta de seus
colegas, mesmo que lhes tenha dado muitas vezes lições. Morreu na fila do INSS,
à espera de um transplante de fígado, recusando um transplante patrocinado por
FHC. Poucos conhecem suas idéias, sua obra, sua vida de militante. Mas a todos
maravilha sua pobreza, e a altura intelectual a que chegou mesmo sendo pobre.
Essa pobreza é sempre realçada, sendo visto não como um de nossos maiores
pensadores do Brasil, em uma obra emancipatória e fecunda. Preferiu-se ver nele
o pobre. Como se pobre não pudesse ser talentoso, coerente e corajoso. O pobre
é um de nossos cacifes políticos e produto de exportação e exploração na mídia.
Mas ninguém o leva a sério além disso, dessa manipulação perversa.
Igor Zanoni
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