quarta-feira, 2 de março de 2011

Paixão de futebol


Paixão de futebol

No campeonato brasileiro de 2009, série A, só a última rodada definiu campeão, os times que iriam à Libertadores e os que seriam rebaixados para a série B. O resultado foi uma instabilidade emocional dos torcedores de quase todos os times durante o ano, as acusações contra arbitragens viesadas, malas brancas, suspensão de dirigentes de clubes e outros fenômenos reais ou irreais do campeonato. Há tempo os torcedores não torciam tanto, não sofriam tanto na sua paixão preferida. Jorge Luis Borges que, elitista, detestava o futebol, imaginou em um de seus contos que o campeonato na Argentina era todo irreal, previamente decidido e depois encenado para melhor mobilizar o afeto dos torcedores. Por um momento pareceu que Borges tinha razão aqui no Brasil, com acusações de prejuízos contra o Palmeiras, depois contra o São Paulo, favorecimento dos times preferidos da rede Globo, no caso, o Flamengo e outros fatos que o sofrimento cria ou dá verossimilhança. Mas houve fenômenos que emocionaram, como o bem futebol jogado no Corinthians por Ronaldo, justamente chamado o Fenômeno, a força e disposição de Adriano no Flamengo e a excelente performance de Fred no Fluminense, responsável em grande medida pela série de dezessete partidas invictas  que livraram o clube do descenso. Exatamente Fred e o Fluminense viveram junto com o Coritiba e seus jogadores uma partida que ficará na memória e talvez mude algo no desenho dos estádios e na segurança de jogadores e torcedores, o empate que o Flu precisava para não ser rebaixado, o mesmo empate que pela combinação de resultados na última rodada rebaixou o Coxa, que havia montado um time com a estrela veterana de Marcelinho Paraíba para atravessar bem o ano de seu centenário. Empate que provocou uma reação violenta da torcida do Coritiba no final do jogo, invadindo o campo, querendo agredir jogadores e enfrentando um policiamento pequeno para a ocasião, que precisou de reforços vindos de helicóptero para fazer recuar a torcida que arrancava pedaços de metal da estrutura do estádio para lutar e lançou-se numa luta que pôs em risco partes da cidade. Prédios próximos ao estádios viram seus saguões invadidos por gente que queria apenas se proteger. A guerra mostrou que o Estádio Couto Pereira precisa mesmo ser reformado, a importância de policiamento maior em eventos decisivos e lançou uma pequena sombra sobre a cidade que deverá ser uma das cidades sedes da Copa do Mundo de 2014. Os resultados diversos, incluindo o empate contra o bom Barueri, livraram o Atlético Paranaense, arqui- rival do Coxa, do destino do último. Borges disse certa vez que todo jogo tem regras arbitrárias, por isso necessariamente envolve o tédio. Mas ele não gostava de futebol nem teria razão no último domingo. Todo o ano de 2010 viu o Coritiba disputando a série B lutando com sua desesperada torcida para subir e o Atlético tentando na série A  melhor desempenho que em 2009, no qual esteve quase todo o tempo ameaçado da sorte do clube rival.  O que acontecerá em 2011? Não importa no fundo. Nunca passou pela cabeça dos torcedores que amar o jogo é perder às vezes e ganhar às vezes, e correr e aceitar riscos como o de ser rebaixado. O fair play não existe no mundo da bola, pelo menos no Brasil. Por ora a torcida do Atlético comemora sua permanência na série A e o descenso do Coritiba, mas o que ocorrerá no próximo ano ou nos outros? Se o futebol não fosse mesmo o hic et nunc em toda a sua expressão, veria de fato o tédio que Borges viu.Como é mesmo o aqui e agora, o gozo extático e o tripudiar o inimigo, os atleticanos riem por ora dos coxas brancas. Mas como disse certa vez o lama Padma Samten, o Atlético não seria o que é sem o Coritiba e vice-versa.Não há nada mais parecido com um atleticano do que um coxa branca.

                                                                                                Igor

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