Sábado cedo ele sentou-se
No café daquele árabe
Frente a Catedral
Jornais embaixo do braço
Um volume de Lucien Goldman
Ao lado da xícara
Usava paletó xadrez
Óculos grossos
Talvez fosse um professor aposentado
Passeando no centro
Apreciei sua elegância velha
Quem sabe neste sábado cedo
Na nossa conservadora Curitiba
Examinasse os descaminhos
Da revolução brasileira
Igor Zanoni
Nunca a memória se mostra
Tão clara e minuciosa
Como no sonho
Mas nele há deslocamento
E conjunção
E as ligações entre todo o sonhado
Formam uma história
Veraz e incrível
Trechos da vida que se sobrepõem
Dizendo o que se viveu
O que se vive
Nesse pretérito presente
Igor Zanoni
Poetas a valer são portugueses
Como não sou da terrinha
Ainda que sinta a vida breve e a alma grande
Recolho humilde esses versos
Nem maus nem bons
Mas que não deixo de mostrar
Por vaidade sim
E por desassossego
Que trago em mim um lusitano vezo
Igor Zanoni
