domingo, 30 de outubro de 2016

Chopin


se uma gota
exata circular densa
cai sobre a pauta da tarde
fere o tendão metálico na caixa do piano
logo o silêncio e outra gota
até uma sequencia de gotas
quem sabe a chuva na janela
o espírito silencia ao ouvir 
o noturno


                                                                      Igor Zanoni

sábado, 29 de outubro de 2016

Ode a um franguinho assado


sábados domingos e feriados
nos açougues bares e botecos de modo geral
que o bairro tem às centenas
exala já cedo o aroma
da costela assada do cupim da bistequinha
no mínimo de muitos franguinhos dourados
com ou sem farofa
as pessoas fazem fila
enquanto eles giram no espeto
depois de criados talvez juntos em uma granja
na vida dura de comer ração com hormônio
os franguinhos  ficam tão crocantes que delícia
todo mundo adora e lambe os beiços
acompanhado de uma Coca ou uma cervejinha
puxa as pessoas precisam relaxar da faina da semana
isso se entende
mas como é duro vir ao mundo
na pele de um desses deliciosos petiscos!
que destino meu Deus valham-me os deuses indianos
que são todos vegetarianos


                                                                 Igor Zanoni

quinta-feira, 27 de outubro de 2016

Alento


não escolhemos o que sonhamos
nossa mente não é um dirigível
antes somos assaltados por nós mesmos
ignorantes de nossas profundidades
de nossa turva obscuridade
nosso coração é tomado pelo dia
pelo que acontece
mas não sabemos com clareza o que nos toma
um sinal em nós dispara
melhor sentar e respirar
diante do que nos é mais sagrado
e respirar tudo o que for ar
profundamente o ar nos cerque e leve
neste momento agudo em que nos falta
o alento que conduz
a essência o espírito


                                                                     Igor Zanoni

terça-feira, 25 de outubro de 2016

Caos temporário


isso e aquilo ficam circulando na cabeça
não tenho defesa
há um pendulo sem fim sem limite
olho para o que acontece
mas não consigo me organizar
há um pequeno delírio
um pequeno mal estar
contra o qual tento lutar em vão
como um boxeur sem luvas
sem nenhum truque
nenhum golpe decisivo
fujo de mim fico quieto calado
mas o temporal insensato recomeça
de palavras turvas que eu não deveria
ter começado
talvez elas tenham antes me tomado
e seu agora não tenho nenhuma defesa
há sempre isto e aquilo que não consigo evitar
uma sistemática turbulência
ou um caos temporário como uma chuvarada


                                                      Igor Zanoni
                                                         

segunda-feira, 24 de outubro de 2016

Fortunas


os muito ricos têm cadillacs
as divas casacos de arminho
a princesa nada em pérolas
o deputado vive em miami
mesmo um casal classe média
tem seu apartamento em caiobá
eu coloco meus poemas
em uma árvore de natal
e como sou afortunado!


                                                             Igor Zanoni