quarta-feira, 31 de agosto de 2016

Pessoas constrangedoras


constrangem as pessoas que não percebem sua real posição no mundo, como os insensatos que se julgam espertos e os repugnantes que se acham irresistíveis. os ambiciosos, os arrogantes, são sempre constrangedores. há pessoas modestas que se mostram tão naturais, centradas, com grande equilíbrio, donas absolutas de seu nariz, cuja modéstia é claramente um poço de vaidade. por todo lado há esse desequilíbrio, pessoas sedentas disso e daquilo, que matam a sede na sua pretensão. a vaidade alimenta muitos ególatras, deixa-os felizes e lhes dá força para vencer na vida. quando encontramos alguém que nos parece despojado e apropriado, à altura das suas pretensões, compreendendo-as e usando-as para estar á vontade no mundo cercando-se de pessoas que pode tornar próximas e  à vontade também, estamos na presença de um herói. como são raros os heróis e como são pouco reconhecidos!


                                                                    Igor Zanoni

terça-feira, 30 de agosto de 2016

Concha


encontrar uma pessoa
quem sabe amar
talvez mais do que isso
tornar-se um amoroso amigo
pode parecer com andar
à beira do mar
recolhendo seixos e conchas
entre as palavras que se trocam
entre os gestos e toques
beijos de boas vindas e adeuses
às vezes se vê uma pessoa
de modo bem distinto
de antes ou do que será depois
cruzamos uma praça
e ela vem na margem oposta
bendito o mar sem margens
marulho infindo
na concha do olvido


                                                     Igor Zanoni

segunda-feira, 29 de agosto de 2016

Amar



amar é um duro mandamento
uma sombra nos incomoda
mal surge no caminho  
e alguns amamos e não amamos
a ternura o carinho o cuidado
são imperativos que só por vezes assumimos
os muito amorosos vivem seus êxtases
tornam-se santos místicos poetas deíficos
o Mestre Dogen preferia: “não ódio”
quanto ódio no barril de pólvora cotidiano
queria ser claro radiante calmo
uma pérola sobre o seu colo
mas como despir-me
como encontrar a serenidade
eu turvo e insuficiente
não posso ser nem meu nem seu
e me dar assim a você
e a mim


                                                              Igor Zanoni

sábado, 27 de agosto de 2016

Quieto


quando eu me aquieto
nuvens descem sobre minha cabeça
um rol de problemas
diários como roupa suja
revive pedindo explicações
por um tempo fico assim atordoado
depois me lembro de respirar
passo a outro plano
de quietude
jogo devagar o que não cabe
resolver ou explicar
logo vem um riso
no rosto o dia todo tenso


                                                               Igor Zanoni

quarta-feira, 24 de agosto de 2016

Abraço


nós abraçamos porque é gostoso
não por ser um gesto de cortesia
se encontrar alguém de quem goste
abrace e deixe-se abraçar
seja uma pessoa gostosa
seja sempre muito querida


                                                       Igor Zanoni