sexta-feira, 10 de março de 2017

O olhar


sem que intencionalmente buscasse
meus olhos viram
mas rápido os retirei
o desejo a beleza
isso tudo é imperioso
que podem fazer os olhos
senão obedecer?
logo me envergonho
cheio de pudor e indecisão


                                                    Igor Zanoni

quinta-feira, 9 de março de 2017

São Sebastião

em meu peito tantas flechas
São Sebastião me ajude
tantas as tolices ditas e feitas
nem é o caso de me arrepender
antes de ainda me saber
capaz de repetir tudo outra vez
fundos espinhos na carne
jamais me deixareis?


                                                Igor Zanoni

terça-feira, 7 de março de 2017

No que eu creio


aquilo em que eu acreditava
sem pensar ou questionar
em que fundava meu dia
meus desejos minhas esperanças
não pode desaparecer
tem um sinal de amor e confiança
que me conduz nas piores encruzilhadas
mas precisa ser refeito
já não é a antiga crença infantil
nem é ainda adulto e meditado
o afeto é eterno ou antes atemporal
estará comigo em meu silêncio
quando digo as antigas palavras
posso dizê-las sem mentir
mesmo no íntimo estou sereno
não poderia dizer em que creio
é algo tão meu pessoal intransferível
falar só criaria equívoco e separação



                                                                Igor Zanoni

segunda-feira, 6 de março de 2017

De um lado a outro


naquela época ele andava
de uma ponta a outra do bairro
sem dinheiro
vendo velhos conhecidos
o barbeiro que contava histórias tolas
sobre seu passado
o pedreiro que gostava de beber
e teve de deixar um dia de trabalhar
o vereador que ficou devendo
 um serviço de marcenaria
o amigo que ficava encostado no muro
fumando e conversando com o idoso seu João
de saudosa memória
ele andava sob o sol sem chapéu
com outros pouco falava
mais tarde adoeceu de novo
as caminhadas cessaram
passou a no máximo ir ao jardim
cumprimentar de longe
os olhos tristes
bom onde isso vai parar se imagina
é triste mas esta é a estória
de um homem idoso lá com grandes problemas
não é a história do seu neto
que deixa o skate na sala
e entra para almoçar
e brincar com o avô


                                                                Igor Zanoni

Andarilho


ele andou para cá e para lá
como a areia soprada pelo vento
tal é o destino dos homens
que são eles para que o mundo
deles se lembre? 
mas como andarilho buscou
o sopro da vida
em sua vida sem direção
os homens não tem mesmo
onde pousar a cabeça
podem escolher todavia
as coisas que outros não veem
e em um redemoinho
atravessar o tráfego cotidiano
 da cidade distraída


                                                                  Igor Zanoni