quinta-feira, 23 de março de 2017

Chamas


há tanto por dizer
mas estamos em terreno pantanoso
aves gritam no ar imóvel
e sempre a dor rouba a cena
os cães famintos andam quilômetros
bem até onde estamos
eu poderia sentar-me sob uma árvore seca
e invocar a serenidade
enquanto outros passam para incendiar a cidade
mas eu não tenho esse dom sobre-humano
enquanto choro minhas faces ardem
mesmo meus cabelos pegam fogo



                                                                       Igor Zanoni

sábado, 18 de março de 2017

Chinês


há pessoas reservadas
parecem orientais
respondem com deferência
perguntam respeitosamente
em um canto da vida
esperam em silêncio
os acontecimentos
depois se manifestam
os gestos contidos
eu não sou assim
mesmo quando não desejo
meu coração grita
oscilando entre os pensamentos
sou feliz ou me irrito
intempestivo sou homem
que logo diz a que vem
como gostaria de ser chinês!


                                                                  Igor Zanoni

quinta-feira, 16 de março de 2017

Pátria amada


quando cometo uma tolice
abro frestas para que ela
não me apanhe em cheio
posso dizer o rol dos meus erros
meus pecados sei de cor
e a quem faço sofrer
(também sofro claro)
mas tudo são meias medidas
dasacertos que compulsão!
entre o choro e a anedota
tento salvar a pátria


                                                   Igor Zanoni

terça-feira, 14 de março de 2017

Grão



ao dormir a criança pede a mesma história
sem nada omitir ou acrescentar
ela volta assim a um ponto originário
a um marco zero na vida que corre
mas assim como todos ela está em seu fluxo
e o dia a dia intermitente surge e desaparece
nesta contínua impermanência
morremos e renascemos
atentos para o cotidiano
saibamos todo o tempo deixá-lo e retomá-lo
o universo joga conosco este jogo
deixemos que a história flua
conte para mim como se diluem as nuvens
como há o sol e às vezes chove
como a erva nasce e as formigas
                                                 carregam para casa o grão       



                                                   Igor Zanoni

sexta-feira, 10 de março de 2017

Andarilho


ele andou para cá e para lá
como a areia soprada pelo vento
tal é o destino dos homens
que são eles para que o mundo
deles se lembre? 
mas como andarilho buscou
o sopro da vida
em sua vida sem direção
os homens não tem mesmo
onde pousar a cabeça
podem escolher todavia
as coisas que outros não veem
e em um redemoinho
atravessar o tráfego cotidiano
 da cidade distraída


                                                                  Igor Zanon