quinta-feira, 12 de julho de 2018

Casulo



dentro de mim há alguém que temo
ele me incita a deixar o casulo
da segurança cansativa
da mesmice tensa dos dias
as palavras costumeiras já natimortas
eu tenho medo da mudança
sei que ela é incerta
nada promete exceto
 a excitação de buscar
a vida que talvez se esconda
sob as camadas de limo cotidiano
escorregadio frio
alguém em mim me empurra para adiante
me diz que nada valem
minha rotina medida
meu amor medido e meditado
mas eu tenho medo
tento acordos com a alma insegura
e a coragem que foi minha um dia
hoje me abandona
tão medroso é meu desejo

                                          Igor Zanoni

terça-feira, 10 de julho de 2018

Mudança


quando Jesus está conosco
não pede para nos guiarmos
nas velhas e boas tradições
que a igreja tanto encarece
mas para que o vejamos
nas mudanças que ocorrem
na nossa rua
aí é o único lugar em que nos quer
no caminho para o futuro
que com ele e conosco começa
Jesus está na no volver favorável
do mundo
andemos com ele em nossa rua
que precisamos voltar a conhecer
nosso santuário não é a igreja
é a vida boa que ele nos anuncia
é o seu e nosso corpo
caminhando entre a páscoa
e o final dos tempos

                                         Igor Zanoni


sexta-feira, 6 de julho de 2018

Credo


crenças tão queridas esqueci
hoje são antigos sonhos
que gostaria de novamente sonhar
mas não posso
não sei
há tantos que mantem ilesa
a sua fé
mas como compreende-los?
de tudo isso nem saudades tenho
sou homem curtido nas desesperanças
mas firme mantenho
a delicadeza e a singeleza
que em tudo eu via e vivia

                                                                     Igor Zanoni

Sou apenas esse homem



sou apenas esse homem
frágil único
posso sumir em um minuto
casualmente
é muito pouco e me dá medo
todos inscrevem seu nome
em certidões e lápides
rápido passamos
a humanidade se deposita
em infindas camadas
desde o primeiro ser humano
frágil único
mesmo que sejamos músicos poetas
dançarinos místicos
tudo que sonha o infinito
tudo que transcende
o efêmero instante
desaparece nesse olvido
em uma névoa passa
poeira que o vento leva
para lá e para cá
quem se lembrará de nós?

                                                                                   Igor Zanoni

Supermercados de bairro


nos supermercados do bairro as pessoas não são bonitas nem bem vestidas. na fila do caixa, pagando a Coca e a dúzia de ovos elas mexem umas com as outras, pois são amigas desde muito tempo e cresceram na mesma igreja. a moça chama seu marido de querido, e pede para seu querido esperar um pouco que ela vai comprar um pacote de bolacha doce para lanchar à tarde com café com leite. e o querido espera sacudindo benevolente no ar o ticket-mercado, pois está trabalhando e é um marido que vai e cava.

                                                   Igor Zanoni