Os que têm sede
Caminham para uma
fonte
E esta não lhes
satisfaz
Vão para outra e o
mesmo acontece
A vida se torna um
deserto
A aridez toma
conta dela
Vem a solidão para
os que buscam
Notícias novas sob
o sol inclemente
Que deem esperança
perspectivas
Ânimo alma nova
Mas nada acontece
A solidão fere
A sede fere
Mas por enquanto
não há nada
Que dê conta de
tudo isso
Igor Zanoni
Nossa vida parece
boa
Depois de algum
tempo
Vista de certo ângulo
Dando um bom
desconto
Igor Zanoni
A vida é longa
Acontecimentos importantes
Ou banais
Ganham sempre novo
relevo
Tornam-se o
contexto
O ambiente o clima
Da nossa
existência
Retornam em outros
acontecimentos
Transformam-se e
se fixam
Na memória que os
buscam
Dão a nós mesmos
uma saudade
E uma atualização
De tudo que passou
E que passa agora
Enriquecem-nos e
nos tornam
Memoriosos infindos
Como o Funes do
conto de Borges
Igor Zanoni
Ela me amava mas
agora seu olhar
Já não tem o mesmo
brilho
Conversávamos a
tarde toda
Seu cabelo loiro
se refletia
Na vidraça
Eu tinha um forte
impacto
Da sua luminosa
presença
O que mais me
atraia nela
Era esse brilho
singular
Mas agora ele se
apagou
Ela sorri fala
algumas palavras
Mas é como se
estivesse
Um pouco ausente
E me deixasse só
Com lembranças
vivas
Do que já não tem
lugar
Ambos pela metade
Igor Zanoni
Eles moram juntos
Dividem até a
mesma cama
E as preocupações
do dia a dia
Mas há uma
intimidade
Reservada em cada
um
Que não pode ser
partilhada
Eles são um casal
cooperativo
Mas não carinhoso
Eles não são uma
dupla romântica
O amor tem sempre
seus limites?
Igor Zanoni
No tardar do sono
O dia
A vida
Se alongam
Obsessivos
Inconclusos
À espera da lucidez
Da manhã
Igor Zanoni
Eu gosto de
abraçar
Agarrar
Apertar
Amassar
Com ternura
Um corpo humano é
lindo
E sagrado
Nada mais belo que
ele
Na natureza toda
Igor Zanoni
