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Outro dia em uma aula de sociologia aprendi que tolerância, um conceito que sempre me pareceu respeitável, indica tolerar aquilo de que não se sente próximo, ou com o que não se simpatiza. Um conceito melhor, explorado por Nancy Fraser, é o de reconhecimento, desde logo, reconhecimento de direitos e de estado, reconhecimento de si no outro, na diferença do outro. Achei bem iluminista, uma visão muito otimista dos homens, pois eu mesmo sei o que tolero, e não é pouco, e o que reconheço, muito menos. Pode-se dar um conteúdo positivo a isto, legislar sobre, mas reconhecer é um ato quase evangélico. Neste mundo em que os emo’s vivem apanhando dos skin-heads, como buscar reconhecimento a quem está em lugar na vida injusto e malvisto? Bem, preciso assistir mais aulas de sociologia.
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Li no jornal que um empresário, o sr. Ioschpe, declarou que elevar os combalidos salários dos professores não eleva a qualidade do ensino, como indicam pesquisas empíricas em diversos países. Para ele, o salário do professor não garante maior competitividade à nação. Eu poderia responder como economista, liberal politicamente, não economicamente, mas vou responder como professor. Como tal penso que todo assalariado deve ganhar um aumento de salário, além de melhores condições de trabalho, em geral humilhantes. O governo gaba-se tanto do Bolsa Família, mas deveria distribuir dinheiro também para quem não é pobre. Não decerto os ricos, mas os remediados, os medianos, seria ótimo. Antes da competitividade do Brasil eu penso na vida boa de cada um, que depende mais de valores e de muitas outras coisas em que o Brasil nunca foi forte. Viver de salário já não é bom, imagine ter de trabalhar sobre conceitos como o de reconhecimento e tolerância pensando na competitividade. Qualquer professor chinês iria rir de mim. Minha aula não vale um quilo de agrotóxico da Monsanto ou um saco de japonas chinesas feitas para uma grande marca. Quem precisa de mim é gente que gosta de viver bem e não vive, é com isto que me preocupo.
Igor Zanoni