segunda-feira, 31 de agosto de 2015

Felicidade

quem busca ser feliz
busca mais felicidade ainda
pergunta ao seu espelho
espelho espelho meu
há alguém mais feliz que eu?
controlando calculando envolvendo
manipulando trocando
 essência pela aparência
assegura para todo o sempre
em sacramentos públicos e secretos
tão dignos tão louváveis
admiração por muitas gerações
dos pais à esposa dos filhos à família toda
nunca saciando essa irremediável ânsia
de ser feliz
toma às vezes um ar
tão feliz
mais que feliz
felicíssimo


                                                                          Igor Zanoni

domingo, 30 de agosto de 2015

Poema russo


semínima distância da pétala
minha pele contata
hastes lanças poros bulbos
o que seja sua pele
líquido
aroma
ancestrais consistências
também as abelhas
os escaravelhos
os montes não de todo cobertos por sobrados
meu pé entre os dedos
as veias do meu braço
não tocar
não pensar
não sentir
cuidado ao respirar jasmins em julho

                                                    Igor Zanoni

sábado, 29 de agosto de 2015

Sutra

estou cantando meus últimos sutras
como um meditador apaixonado
pelo espírito do zen
leitor de hippies americanos
que se tornaram monges e antropólogos
entre montanhas 
 e o amor sobre fogueiras distantes
no deserto do meu país que sumiu
por estradas repletas de frangos contaminados
e etnias redescobertas graças ao agrobusiness
faminto de comida para a China
faminta de novas forças produtivas e de fé
canto em Curitiba sonhando com Cartagena
com a casa de Gabo e com os últimos dias de Simon Bolívar
enquanto digo a tantos jovens companheiros
cada um seja um espaço para o outro
mantenham a compaixão do stárietz Zósima
respirem todo ar na posição de lótus
não entrem no reino do informe
prestem atenção no Buda que todos somos
enquanto estamos nesta vida e podemos praticar
o Dharma


                                                    Para Demian Castro

                                   Igor Zanoni

sexta-feira, 28 de agosto de 2015

Polônia

garota,de uma a uma sibilante consoante de seu nome impronunciável posso cruzar Vístula acima a Boêmia, Cárpatos assustadores, camponeses ainda com tamancos de tília, judeus confiantes no seu Golem, negociantes em jogatinas de almas mortas, o homem dos lobos


                                                    Igor Zanoni

quinta-feira, 27 de agosto de 2015

Fio

as grandes amigas não esquecem
mais próximo ou distante o tempo
em que pela última vez nos vimos
o ameno acolhimento
o sentido os gestos
sem falta alguma excesso algum
a precisão com a qual nos tomaram
esqueçamos quando não importa
irmãos irmãs filhos
para juntos tecermos o fio de Ariadne
com que não se perdessem
e outra vez nos encontrassem


                                                 Igor Zanoni