a jornalista Xinran, que apresentava em Nanquim um
programa de rádio voltado para conhecer aspectos da vida das mulheres chinesas,
conheceu em 1994 uma mulher já idosa que fora médica do Exército Popular de
Libertação e voltava de uma estadia de 30 anos no Tibete. Xinran manteve com ela uma longa conversa
durante alguns dias, na qual a médica, Shu Wen, contou a história de sua vida.
Depois disso a jornalista estudou durante alguns anos a cultura, a religião e a
história das relações entre a China e o Tibete, buscando compreender melhor o
relato de Shu Wen. O resultado foi um livro, publicado apenas em 2004 na
Inglaterra, para onde Xinran havia se mudado, Enterro Celestial. Shu Wen fora
casada no início dos 60 com um médico do ELP que havia sido enviado para o
Tibete, mas pouco depois o rapaz morreu sem que as sua morte ficasse
esclarecida. A médica decidiu então procurar o marido e parte em uma longa
jornada em busca do marido. Acaba permanecendo trinta anos na região, só
voltando quando encontra notícia de como se deu a morte de seu marido. O livro
narra essa história de amor, ao mesmo tempo em que narra muito sobre a vida das
populações remotas da região, as relações entre o Tibete e a China e as
transformações que a região sofre sob o domínio chinês. O relato é equilibrado,
bastante simpático ao budismo tibetano e às ásperas condições de vida das
populações nômades, ao mesmo tempo em que ressalva as intenções da China de
melhorar a situação de pobreza e atraso no Tibete. O enterro celestial era uma
prática budista de oferecer o corpo dos mortos às aves sagradas das montanhas,
como abutres. O marido que Shu Wen procurava havia morrido voluntariamente para
melhorar as relações entre tibetanos e chineses em certa região e recebido esta
forma de enterro.
Igor Zanoni