Neste romance de
2020, Jeferson Tenório constrói uma estória sobre uma jovem adolescente,
Estela, no início dos anos noventa. Ela mora com sua mãe e um irmão pequeno em
Porto Alegre, sem a presença do pai de cada um, apenas com a mãe que trabalha
como faxineira. Todos são negros e pobres. A situação de penúria leva a mãe a
deixar os filhos no Rio de Janeiro, no Méier, com uma parente, que também tem
um filho e frequenta uma igreja evangélica. Estela frequentara um terreiro de
umbanda em Porto Alegre, e estranha a igreja em que é compelida a ir. Tudo que
ela deseja é voltar a um terreiro para que Oxum desça sobre ela. Mas ela
procura pensar nas mensagens da igreja e na figura de Deus. Estela deseja ser
filósofa, isto é, alguém que pensa por si mesma sua vida e Deus está no centro
de suas preocupações. Depois de um namoro infeliz com o filho do pastor ela
encontra Francisco, um homem já bem mais velho que ela e do qual engravida.
Todavia, mesmo que ele a ame e deseje o filho, Estela faz um aborto com a ajuda
de uma colega, Melissa. Tudo isso a faz voltar a pensar em Deus, não como a
figura patriarcal e mágica que a igreja venera, mas como um ser que está presente
na mãe trabalhadora, nos atos da vida, na coragem que ela deve reunir para se
tornar uma pessoa mais independente. Jefferson Tenório tem vários livros, como “O
avesso da pele”, que ganhou o Prêmio Jabuti, nasceu em 1977 e é carioca. Vive
entre São Paulo e Porto Alegre e é um dos melhores romancistas atuais do país.
Igor Zanoni
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