sexta-feira, 8 de agosto de 2014

Seleções do Reader´s Digest


rir (de si mesmo) é o melhor remédio


                                                                     Igor Zanoni

segunda-feira, 4 de agosto de 2014

Sem lugar no mundo


eu te amava portanto
como cavalheiro antiquado
ofereci um ramalhete de versos
mas você pediu troca da mobília da casa
e viagens nas férias
fazer versos é ofício como outro
e parecer antiquado
não é estar extinto
eu me senti tão sem lugar no mundo
conversei sobre minha estranheza
com um sábio
no dia seguinte lhe enviei portanto
fino ramalhete mais belo de versos
ele me ensinou um modus operandi
você escreve bem mas me fica devendo dinheiro
dinheiro é mesmo um problema
eu me senti tão lugar no mundo


                                                                    Igor Zanoni

Estrelas


lembro sem procurar
um aviso um breve comentário
como não percebi isso
essa delicada partilha
em dia tão remoto?
antigas palavras me chegam
sei que a noite é desenhada
por constelações que se foram
mas cuja luz
ainda busca meus olhos
e quanto preciso ser atento


                                                            Igor Zanoni

                                           

sábado, 2 de agosto de 2014

Visita


apareça em casa
venha tomar um cafezinho
parece muito formal
mas muitos do coração preferem
à certa altura
tornar-se visitas ou nem isto
para mim não
 se aparecem procurarei me conter
ninguém tem muito tempo eu sei
mas um café se faz rapidinho


                                               Igor Zanoni

sexta-feira, 1 de agosto de 2014

Cada um

 
cada um, ao se encontrar com outra pessoa, representa para ela nesse encontro a humanidade, tanto quanto esta representa para ele a humanidade. o encontro envolve emoções, posições sociais, visões políticas, necessidades e assim por diante, mas não se sabe bem de antemão quais delas, mesmo quando tantas parecem inflexíveis e justas. cada um é feixe, tensão e fluidez, e nossa alma torna-se outra agora e adiante. assim como cada cultura é em potência todas as outras, cada um é em potência o outro, e logo muitos outros eus. simples e claro como isto é, garante a nossa liberdade, a reversibilidade das previsões, simplifica nossa visão de nós, a necessidade de tantos constrangimentos e de tantas dores. Heráclito falava que tudo flui, Buda também disse algo parecido, não no sentido em que se fala hoje, de uma pós-modernidade líquida, na qual perdemos suportes sociais e pessoais para uma vida segura. esta “vida líquida” vem de enrijecimento e de perda de contato amplo com cada um, ela vem precisamente de que se procura estagnar a cultura em um marco, e dizer a cada um de nós que não podemos começar a ver com outros olhos, como observa Zigmunt Bauman. o mundo se regenera quando podemos vê-lo de outra forma, quando perdemos com isso tanta ansiedade e tanto medo e reencontramos um lugar que são muitos lugares no interior de uma solidariedade e cultura comum. toda fixidez não é senão um atentado a cada dia e ao futuro, e seus suportes são aviões atingidos por mísseis nada no fundo surpreendentes, genocídio palestino e a estupidez em todo lugar, mesmo agora em cada um de nós, quando não desejamos senão falsa segurança.


                                                                    Igor Zanoni