sexta-feira, 1 de agosto de 2014

Cada um

 
cada um, ao se encontrar com outra pessoa, representa para ela nesse encontro a humanidade, tanto quanto esta representa para ele a humanidade. o encontro envolve emoções, posições sociais, visões políticas, necessidades e assim por diante, mas não se sabe bem de antemão quais delas, mesmo quando tantas parecem inflexíveis e justas. cada um é feixe, tensão e fluidez, e nossa alma torna-se outra agora e adiante. assim como cada cultura é em potência todas as outras, cada um é em potência o outro, e logo muitos outros eus. simples e claro como isto é, garante a nossa liberdade, a reversibilidade das previsões, simplifica nossa visão de nós, a necessidade de tantos constrangimentos e de tantas dores. Heráclito falava que tudo flui, Buda também disse algo parecido, não no sentido em que se fala hoje, de uma pós-modernidade líquida, na qual perdemos suportes sociais e pessoais para uma vida segura. esta “vida líquida” vem de enrijecimento e de perda de contato amplo com cada um, ela vem precisamente de que se procura estagnar a cultura em um marco, e dizer a cada um de nós que não podemos começar a ver com outros olhos, como observa Zigmunt Bauman. o mundo se regenera quando podemos vê-lo de outra forma, quando perdemos com isso tanta ansiedade e tanto medo e reencontramos um lugar que são muitos lugares no interior de uma solidariedade e cultura comum. toda fixidez não é senão um atentado a cada dia e ao futuro, e seus suportes são aviões atingidos por mísseis nada no fundo surpreendentes, genocídio palestino e a estupidez em todo lugar, mesmo agora em cada um de nós, quando não desejamos senão falsa segurança.


                                                                    Igor Zanoni

Nenhum comentário:

Postar um comentário