cada um, ao se encontrar com outra pessoa, representa
para ela nesse encontro a humanidade, tanto quanto esta representa para ele a
humanidade. o encontro envolve emoções, posições sociais, visões políticas,
necessidades e assim por diante, mas não se sabe bem de antemão quais delas, mesmo
quando tantas parecem inflexíveis e justas. cada um é feixe, tensão e fluidez,
e nossa alma torna-se outra agora e adiante. assim como cada cultura é em
potência todas as outras, cada um é em potência o outro, e logo muitos outros eus.
simples e claro como isto é, garante a nossa liberdade, a reversibilidade das
previsões, simplifica nossa visão de nós, a necessidade de tantos
constrangimentos e de tantas dores. Heráclito falava que tudo flui, Buda também
disse algo parecido, não no sentido em que se fala hoje, de uma pós-modernidade
líquida, na qual perdemos suportes sociais e pessoais para uma vida segura. esta
“vida líquida” vem de enrijecimento e de perda de contato amplo com cada um,
ela vem precisamente de que se procura estagnar a cultura em um marco, e dizer
a cada um de nós que não podemos começar a ver com outros olhos, como observa Zigmunt
Bauman. o mundo se regenera quando podemos vê-lo de outra forma, quando
perdemos com isso tanta ansiedade e tanto medo e reencontramos um lugar que são muitos lugares no interior de uma solidariedade e
cultura comum. toda fixidez não é senão um atentado a cada dia e ao futuro,
e seus suportes são aviões atingidos por mísseis nada no fundo surpreendentes, genocídio
palestino e a estupidez em todo lugar, mesmo agora em cada um de nós, quando
não desejamos senão falsa segurança.
Igor Zanoni
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