O Sole Mio

na tarde calma

debaixo do chuveiro cortava a barba

com um presto barba

cantando O Sole Mio

não havia mais ninguém na casa

a voz ecoava nos ladrilhos

naquele momento a vida

parecia perfeita

basta com calma ficar pelado

entrar no chuveiro

com um presto barba

sozinho na casa

que ecoava O Sole Mio

por algum tempo

uma paz inocente

de homem jovem

                                                                                  Igor Zanoni

Campinas

minha cidade não é como esta

em toda parte guarda os sinais

da minha juventude

meus irmãos envelhecem

a rodoviária cresceu e mudou

e o prefeito também ali atrasa salários

mas perdura o que me fez um jovem

e depois um adulto

suas colinas seus flamboyants

a igreja gótica do Rosário

há hoje grandes lojas shoppings

restaurantes com os quais eu não sonhava

mas as escolas que formaram minha alma

estão ali com pessoas que me são próximas

no fundo de minha alma

e posso andar sem me perder

como um cidadão grego não se perdia

na cidade à qual pertencia

e no perdurar a cidade e eu nos repetimos

e esteja onde estiver

de seu e do meu coração não fugimos

                                                                       Igor Zanoni

Viagem

quando viajamos

a paisagem íntima

muda com a exterior

onde vamos os compromissos

são outros

em geral mais leves

podemos deixá-los ao voltar

a volta é sempre um pouco pesada

retoma-se a rotina

o costume dos dias

um dia viajaremos para sempre

não será bem uma viagem

mas uma mudança final

nós nos surpreenderemos

ao ter de partir assim

mas todos os homens são mortais

e à nossa volta homens e mulheres

nascem e morrem sem pedir

como um dom com o qual

ainda não nos habituamos

no momento final teremos espírito

para nos sentir surpresos

para perceber qualquer mudança?

                                                                                          Igor Zanoni

Passagem

há os que creem sempre na vida

é bom sempre crer

mesmo quando o que é ruim acontece

não podemos acrescentar

um minuto à nossa vida

bebamos à ela

sorridentes digamos

vida que me convém

teu amor me basta

quando o mal vier estarei

de mãos dadas com tudo que vive

e passa

                                                                  Igor Zanoni

Infelizes

eu não sei nome de passarinho

mas aquele era muito pequenino e verde

e voava bem do jardim para o telhado

pensei em como a natureza é sábia

uma coisinha dessa nasce e voa

os homens demoraram muito a voar

ele nascem e por sorte ingrata

choram e são infelizes para sempre

                                                                              Igor Zanoni