domingo, 14 de abril de 2019

Movimento

há um tempo para elaborar
o sofrimento
ficamos cansados adoecemos
retornam velhas obsessões
mas tudo isso se vive
elaborar é tarefa para a mente
e o corpo
toma-nos inteiros
isso se vive é a vida
o movimento em busca de nós
a retomada da intimidade
a busca de cura


                                                                 Igor Zanoni

sexta-feira, 12 de abril de 2019

Antideclaração

eu não te amo
e não sei bem
o como e o porquê
perdi-me talvez em apostas altas demais
em desventuras inesperadas
há amantes que tudo suportam
a virtude do amor brilha para eles
qual raro cristal
meu amor envelheceu
como um gramofone
as notas graves já não se ouvem
as agudas são ruídos estridentes
em meus gastos discos de cera

                                          Igor Zanoni

quinta-feira, 11 de abril de 2019

Vênus


se você lê um livro intitulado
digamos
A Fonte da Felicidade Duradoura
se for inteligente perceberá
que livros semelhantes foram escritos
por místicos, políticos, filósofos,
militares e departamentos de propaganda
você perceberá que eles são trens velozes
que cruzam dias e noites insones
sem aceitar passageiros
se você for um homem como eu
que precisa de consolação na vida árdua
divirta-se pelo menos lendo o clássico estelar
As Técnicas Venusianas para o Prazer Incontido  
é muito bom!

                                                   Igor Zanoni

terça-feira, 9 de abril de 2019

Canção de outono


na manhã fria e clara
a chuvinha fina desperta
o corpo da tepidez dos cobertores
temos vontade de romper a inércia
fazer o dia
tornar seus compromissos
a base de uma vida reta
os jornais derramam sua sujeira
material e espiritual
em tudo que eles tocam
as mãos ficam cinzentas
e o coração triste
mas neste momento o que posso fazer
é viver minha vida
de modo algo egoísta
sorvo um café expresso na esquina
aos poucos me encontro com amigos
estou com uma tosse incômoda
aliás na rua no ônibus
muitos tossem
os vírus também gostam do frio
então aperto ao pescoço
a gola do casaco
sinto o corpo cálido forte
e sigo entre os moinhos de vento
da cidade
bancos órgãos públicos
vírus o sistema de transporte
e venço-os um a um

                                                        Igor Zanoni

segunda-feira, 8 de abril de 2019

Canaã


até onde irá esse caminho?
meus pés estão machucados
a água é pouca
e o alimento escasso
um deus interior me enviou por aqui
seguirei até quando ele pedir
estou sujo e cansado
o horizonte se repete
na areia e nos montes baixos
perco às vezes a perspectiva
tenho de retomar toda a história
o deus me enviou e eu seguirei
este caminho
até quando?
esta pergunta nem faço
mas onde estará Canaã?
estará ainda longe?

                                            Igor Zanoni