na foto ela está bem à vontade, sorrindo, com um rabo
de cavalo realçando sua juventude. é uma foto antiga, ela mesma faleceu há
trinta anos e a foto é muito anterior a isso. mas sua beleza e soltura são
ainda tão marcantes através dessa foto antiga que a mim é difícil pensar que
ela viveu um dia em minha vida, também para mim, e já não existe. não posso
apresenta-la a ninguém, só tenho essa foto como algo exterior e objetivo, e minha
fala, calçada em minhas memórias, que um dia irão comigo, com minha própria
morte, nunca antes porque o esquecimento é impossível. apenas a foto e minha
fala, e além delas uma moça de cabelos com um rabo de cavalo, sorridente, bela,
impossível não vê-la, impossível que ao tirar essa foto ela não tenha tido a
nítida impressão de sua própria permanência, desafiando a ideia de que as
coisas passam, e talvez pelo menos certas pessoas, mais do que as coisas, não
passem porque formarão sempre o fundo subjetivo da humanidade, de onde partem
os sorrisos, a coqueteria, a beleza, e tudo que a humanidade possuirá
sempre.
Igor Zanoni
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