sexta-feira, 6 de abril de 2018

O anacronismo religioso


muitos de nós se sentem como pessoas religiosas. a religiosidade não precisa nem deve ser racional, mas não podemos ser anacrônicos e distantes de nós mesmos, de nossa interioridade. ouvimos,  por exemplo, que Cristo morreu na cruz para nos salvar da morte a que nos condenou o pecado. é difícil entender bem o conceito de pecado, mas digamos que seja uma transgressão contra a lei de Deus, isto é, contra uma lei de amor a Deus e ao próximo. como a morte de Jesus nos livrou dessa transgressão? segundo o relato de sua vida, como um sacrifício, semelhante aos praticados desde tempos imemoriais pelas civilizações. Cristo foi uma vítima expiatória. mas por que Deus precisou condenar seu Filho a essa morte, e morte de cruz? Ele deve ser um Deus cruel e terrível, como tantos da mais alta antiguidade, mas Cristo nos falou de um Deus de amor: Deus é amor. amor pelos homens, que exigiu o sacrifício de seu Filho. esse Deus me parece uma figura ambígua, entre o mais antigo passado e o nosso mundo. Paulo nos fala que por Adão o pecado entrou no mundo, e com ele a morte, mas Cristo nos livra do pecado e da morte que é o salário do pecado. é claro que não se pode mais pensar em Adão, como o pecado entrou no mundo? houve um tempo paradisíaco sem pecado do qual o homem saiu por sua vontade desobediente? é claro que uma vida amorosa pode nos ser gratificante e plena, mas podemos crer na vida eterna? podemos crer na ressurreição dos mortos? as histórias bíblicas são mitos e parábolas, não podem nos levar a posições muito fundamentalistas e biblicistas, mas podem nos levar a repensar nossos valores e aceitar valores como os que Jesus encarnou, de amor e doação. a mim cansa tantos pastores e padres insistiram no sangue de Cristo e no seu sacrifício redentor. Cristo pertence em muito a nosso tempo, mas muito de tudo pertence a um Jesus que viveu outro tempo e outra linguagem, que não pode ser a nossa. pelo menos não pode ser a minha.


                                                                           Igor Zanoni


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