em uma unidade de pronto atendimento, que funciona 24
horas por dia, se você demorar um pouco para ser atendido (isso depende da
triagem que classifica como mais ou menos urgente o seu problema), percebe que
as pessoas que esperam vão mudando ao longo do dia, conforme umas são atendidas
e chegam outras mas a unidade está sempre cheia. o que elas fariam se não
houvesse tais unidades? ali a plebe da cidade exerce seu cada vez mais remoto
direito de cidadania, seu direito por exemplo a uma medicina gratuita e eficiente
pelo sus. a plebe não tem dinheiro nem planos de saúde, e é imensa sua
necessidade do serviço público. as pessoas ali são simples, feias, mal
vestidas, formam um enorme contingente social ao qual a fortuna não sorri. é
pavoroso imaginar que esse vasto contingente tem seus direitos ameaçados, que sua
cidadania efetiva está cada vez menos assegurada em um aspecto básico como a
saúde. a cidadania se exerce no dia de eleições, mas esse dia se torna sempre
menos importante à medida que os políticos perpetuam-se na vida pública no
triste espetáculo do clientelismo e do patrimonialismo brasileiros. mas a
cidadania se exerce mais claramente a cada vez que uma necessidade é atendida
pelo espaço público, como o sus e a educação pública. é precisamente essa cidadania
que está sendo ameaçada pelo primarismo da política econômica que atende antes
aos grandes interesses, os interesses dos rentistas e dos fluxos de capital
livres no planeta. a plebe não sabe nada sobre isso. ela entra mal na unidade
de pronto atendimento, com pressão elevada, febre, dores no peito e na cabeça,
febre, as crianças chorando ou dormindo no colo da mãe. ela é só um resíduo
humano para o capital e para o estado, mal vestido, feio, ignorante, que o
estado cada vez mais vai deixando aos azares da vida, e como sua vida é azarada!
Igor Zanoni
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