sexta-feira, 24 de agosto de 2018

Uma lembrança de meu pai


meu pai nasceu em 1925. embora tivesse feito duas graduações, Teoria e Solfejo e Odontologia, com longa passagem pela Orquestra Sinfônica Brasileira e pelo Exército, era uma pessoa, além de criativa (foi um dos primeiros a fazer implantes e ortodontia em Campinas e dirigiu vários corais de igrejas que frequentamos) também bastante autodidata, como muitos de sua época. estudava por conta, hoje vejo que acertava no varejo e errava no atacado em muitos de seus temas favoritos, como psicologia, religião e educação. gosto de me lembrar de suas prateleiras de livros, herdada de sua juventude. lá havia antigas veleidades poéticas à mostra, como nas poesias de Olavo Bilac, o Eu e Outras Poesias de Augusto dos Anjos ou A Velhice do Padre Eterno de Guerra Junqueiro, ou já, em seus temas favoritos, errâncias pelos Quatro Gigantes da Alma de Mira y López e pela Arte de Curar pelo Espírito de Stefan Zweig. esses livros já quase não se leem, estão superados. ele mesmo os abandonou para estudar e praticar parapsicologia e, mais tarde, apenas esquecer tudo isso e ouvir música e ver filmes ( ele gostava muito de cinema). os livros de meu pai estão, alguns, em minhas próprias prateleiras, mas expurguei os mais datados. dele entretanto herdei o mesmo espírito autodidata e vários interesses. acho que ele sentia o quanto lhe faltava para ser mais bem formado mas o mesmo posso dizer de mim mesmo ; cada um de nós levou sempre suas perguntas que nem sempre tiveram respostas razoáveis.

                                                            Igor Zanoni

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