meu pai nasceu em 1925. embora tivesse feito duas
graduações, Teoria e Solfejo e Odontologia, com longa passagem pela Orquestra
Sinfônica Brasileira e pelo Exército, era uma pessoa, além de criativa (foi um
dos primeiros a fazer implantes e ortodontia em Campinas e dirigiu vários corais
de igrejas que frequentamos) também bastante autodidata, como muitos de sua
época. estudava por conta, hoje vejo que acertava no varejo e errava no atacado
em muitos de seus temas favoritos, como psicologia, religião e educação. gosto
de me lembrar de suas prateleiras de livros, herdada de sua juventude. lá havia
antigas veleidades poéticas à mostra, como nas poesias de Olavo Bilac, o Eu e
Outras Poesias de Augusto dos Anjos ou A Velhice do Padre Eterno de Guerra
Junqueiro, ou já, em seus temas favoritos, errâncias pelos Quatro Gigantes da
Alma de Mira y López e pela Arte de Curar pelo Espírito de Stefan Zweig. esses
livros já quase não se leem, estão superados. ele mesmo os abandonou para
estudar e praticar parapsicologia e, mais tarde, apenas esquecer tudo isso e
ouvir música e ver filmes ( ele gostava muito de cinema). os livros de meu pai
estão, alguns, em minhas próprias prateleiras, mas expurguei os mais datados.
dele entretanto herdei o mesmo espírito autodidata e vários interesses. acho
que ele sentia o quanto lhe faltava para ser mais bem formado mas o mesmo posso
dizer de mim mesmo ; cada um de nós levou sempre suas perguntas que nem sempre
tiveram respostas razoáveis.
Igor Zanoni
Nenhum comentário:
Postar um comentário