Do tempo

Os poetas têm seu tempo

Mas não são seus escravos

Podem ter maior ou menor liberdade

Quanto maior mais sofrem

A liberdade custa e é cara

O tempo busca produzir seus poetas

Ai deles se o tempo é amargo

Se as dores do mundo são ferozes

Pode dar luz a poetas medíocres

Imaturos covardes

Há poetas que vivem viajando

Entre uma cidadezinha e outra

Buscando seu pensamento

Sua lucidez

Poetas buscam seu lugar adequado

Longe do tumulto da enganosa vida

Circulando no tempo que lhes coube

Dando-lhe contornos

Dizendo sempre um alegre não

A tanta coisa

Para poder dizer sim à vida

A vida e sua excelente liberdade

                                                      Igor Zanoni

O Parsifal

O professor gostava de Schopenhauer

Lia à noite depois de preparar

Suas aulas de Economia do Setor Público

Eu estranhei quando me disse

Nunca havia notado nele

Qualquer sinal de alguém romântico

Ou dado a pessimismos

Mas nunca conhecemos bem as pessoas

Hoje se lê ainda Nietzsche

Conheci um psicólogo jovem

Que tinha tiradas ótimas com frases dele

Mas o problema é que filosofia está em baixa

Saindo dos currículos escolares

Enquanto entra religião

Não eu não sou ateu

Mas os padres cantores e as moças

Que choram pelo seu amado Jesus

Num gospel melado

Tiram toda minha paciência

E minha esperança no futuro

Melhor ouvir O Parsifal

Que também era música sacra

                                                                  Igor Zanoni

                    

Angústia

Agora é preciso cumprir luto

Mais tarde sairemos dele

A alma com cicatrizes

Mas capaz de viver

Enquanto isto nos for dado

É tolo hoje fazer compras

Chamar amigos

Andar nas praças

Isto é sinal de pobreza íntima

De que não se está prestando

Atenção devida

Por toda parte se sofre

Nós também estamos sofrendo

Os distraídos não notam

Isso só prolonga

A inevitável angústia

                                                   Igor Zanoni