quinta-feira, 30 de julho de 2020

Mônica


A psicóloga quer 
Que eu seja feliz 
Que eu seja corajoso 
Perdoe o passado 
E ame os que estão 
À minha volta 
Eu vou tentar minha amiga 
Ela é uma moça de temperamento 
Cuida dos outros 
Cansa-se também com isso 
Mas como é valente! 
Também é jovem e bonita 
Ela é minha irmã 
É uma gatinha 
Eu a chamo de psicogatinha 

                                                                                                                                   Igor Zanoni

terça-feira, 28 de julho de 2020

Sargento


Eu queria ter desejado 
Opções que não pude desejar 
Em minha vida complexa 
Sinto-me em falta comigo 
Sinto-me incompleto 
Inconcluso 
É assim mesmo que as coisas são 
Como encontrar paz  
No que foi e não 
No que poderia ter sido? 
Melhor deixar que a vida comande 
Mas às vezes ela é um sargento 
Grosseiro  

                                                                                                                          Igor Zanoni

segunda-feira, 27 de julho de 2020

Papo de anjo


A violência que as cidades maiores do Brasil vivem começou nos anos 90, após a crise econômica e social dos anos 80 e a opção por um modelo neoliberal de condução da política. Daí por diante ela tornou-se crônica e cresceu. Mas no distante final dos 60, quando eu era um jovem adolescente, eu podia passar as férias no Rio onde nasci, na casa de minha madrinha no Rocha e passear à vontade, sozinho, pela cidade. Eu adorava o centro do Rio e lembro muitos ótimos passeios que fiz. Um dos melhores era ir à rua do Ouvidor e entrar na Confeitaria Colombo. Embora isso tenha tempo, lembro bem dos cristais e dos metais dourados do restaurante. Eu olhava maravilhado para os doces nas cristaleiras e comia um maravilhoso papo de anjo. Isso tem muito tempo, é uma pena que o tempo passe, mas lembro bem com minha impressionabilidade de menino, ainda viva. 

                                                                                                                        Igor Zanoni. 

sexta-feira, 24 de julho de 2020

Sonhos


Quando a aurora de róseos dedos 
Entrou pela janela 
Eu ainda me entregava aos sonhos 
Sem querer despertar de todo 
Os sonhos eram coerentes 
Tranquilizantes 
Eu me sentia esplêndido 
Navegando em mares serenos 
Uma taça de rubro vinho 
Ou duas quem sabe mais 
Deram-me uma noite esplêndida 
Mas agora eu tinha de viver 
O cotidiano dos que vem e vão 
Na vida plena dos desejos dos deuses 
Eles não poupam seus filhos 
Antes ordenam que sigam por aqui e por ali 
E que não se percam como Ulisses 
Nas ilhas solitárias 
Ou nas ruas cheias de curitibanos 
De aqueus e dublinenses 

                                                                                                                Igor Zanoni