domingo, 8 de janeiro de 2012

Moral


alguns passam muito tempo
controlando a vida dos outros
talvez porque não conseguem
descontrolar mais a sua mesma
esse é um pilar da moral
a vigilância sobre os demais
e o elogio em boca própria

                                           Igor Zanoni

Tempo


1
toda pessoa precisa
lidar consigo o tempo todo
alguns fazem isto e se tornam poetas
mas é claro existem poetas interessantes
e outros intragáveis
é tão difícil lidar consigo
que toda pessoa ao nascer
deveria já ganhar um bônus extra

2
cada coisa tem sua hora
a criança acorda e é preciso
que a mãe já tenha preparado um lanche
depois precisa fazer a lição
mas dentro de um certo prazo
ou se atrasa para a escola
o almoço demora o tempo de ficar pronto
o marido também chega na hora do almoço
e precisa disto e daquilo
o tempo é administrado pela mãe
mas sempre de acordo com o que exige
a família
quando todos saem a mãe se deita
e faz o que não sabemos
porque esta é a sua vez

                                                           Igor Zanoni                              

sábado, 7 de janeiro de 2012

Valor


parece-me meridiana clareza
atribui o valor dos objetos
ao tempo de trabalho
destinado a fabricá-los
pois o que o trabalho mais demanda
de nós é nosso tempo
o tempo da vida
vida que se curva
a um mundo que não podemos ganhar
mas que somos obrigados
a reiterar

                                                   Igor Zanoni        

Escolhas

Escolhas

não se pode ser à vontade
religioso ou indiferente
feliz ou melancólico
ansioso ou plácido lago
estas escolhas não são feitas
apenas por nós
mas pela criança que fomos
seus imperativos atuais
é terrível mas para o mundo e para nós
somos bastante cegos
não se trata de poder mudar a visão
ou a compreensão
estas coisas estão dadas
mas há sempre insatisfeitos
que giram pela vida
como em uma interminável viagem
e há os que chegaram há muito
estes tem os olhos calmos
a testa sem rugas
como é difícil compreendê-los!

                                                               Igor Zanoni

quarta-feira, 4 de janeiro de 2012

Empreendedor


tenho um amigo hoje perto dos cinquenta anos que sempre quis melhorar de vida. como o assalariado em geral ganha pouco, tentou várias formas de empreendedorismo. habilidoso com as mãos, montou marcenaria, mas o custo das máquinas e da madeira, que vinha cada vez de mais longe, inviabilizou o negócio. não se desfez em prantos. vendeu tudo e foi trabalhar como motorista de ônibus. mas antes passou um período com uma Kombi trabalhando como marido de aluguel. não ganhava bem e o negócio oscilava muito. daí se tornou motorista. depois passou a trabalhar como motorista de caminhão, por um salário fixo, fazendo longos trajetos de cá para lá no Brasilzão. conheceu o Pará, ia muito ao Nordeste, ao Rio, Espírito Santo, Porto Alegre. juntou uma grana e comprou dois caminhões. a vocação dele era e é empresarial. começa agora seu novo negócio. sempre calmo, como as pessoas não obsessivas são. no meio do caminho ele, que era batista, voltou para o catolicismo depois de romper com o primeiro casamento. teve várias namoradas e mais tarde se casou de novo, sempre trabalhando. começou a fumar e a beber um pouco depois que se tornou católico, depois parou. sua mulher é outra empreendedora. sempre que a encontro pergunto onde está trabalhando no momento. fez planos para abrir negócio em Tocantins, depois no Rio Grande do Sul, fala bastante, é desembaraçada, como os empreendedores são, pois ganham o jeito comercial de tratar as pessoas. seu marido entrementes operou a vesícula, engordou, emagreceu, criou filhos, deixou muitas saudades á beira do caminho, pensa em ir para o interior, comprou um terreno onde vai construir uma casa em ponta-grossa. nas férias vai até a praia, volta no dia seguinte, quando chega de algum lugar come o que acha e dorme que logo vai ter de fazer outra viagem. os empreendedores são assim, não descansam, o mercado é competitivo, a vida é dura mas eles não se assustam nem pensam que ela poderia ser menos dura.esse é o jeito da madeira.

                                                           Igor Zanoni

segunda-feira, 2 de janeiro de 2012

Mal comum


há uma participação comum no mal que envolve nossas vidas. com intensidades, comprometimentos, compreensão diversos, em algum ponto de nós vive nossa cumplicidade. por isso temos dificuldade em amar a humanidade e a nós mesmos. o ódio e a agressividade sempre são mais fortes e mais acessíveis. muitos escreveram sobre isto, desde milênios atrás. o livro do Gêneses o explica como o mito do pecado original. ele não é o pecado do primeiro casal que nós, longe do paraíso, repetimos. são antes todas as várias e complexas formas de participação na infelicidade do mundo. podemos perceber isto e pedir perdão, ser batizado é um ritual de exorcizar esse mal, de nos imunizar contra ele. podemos repetir confissões, repetir comunhões, como alguém que precisa compulsivamente lavar as mãos. ninguém está a salvo, poucos conseguem viver uma vida cristã. e esta vida ganha sentidos diversos a cada época. desde logo não devemos extremar esses fatos, melhor uma paciente aceitação, uma terna moderação em tudo que nos liga a nós e ao mundo, lado a lado de um sincero não.

                                          Igor zanoni 

domingo, 1 de janeiro de 2012

Ano Novo


quando comemoramos o ano novo
é hora de perdoar os amigos
e pedir perdão por si mesmo
pois a velha vida está mais frágil
para todos nós

                                           Igor Zanoni