sexta-feira, 31 de agosto de 2012

Jeca Tatu



Quando era mocinho a história que mais me agradou e li diversas vezes foi a do Jeca Tatu. Meu pai era militar, adepto de Rondon e do positivismo e, embora censurasse o socialismo de Monteiro Lobato, me deu montes de livros dele para ler. O Jeca Tatu achei um hino ao progresso e á razão, e também li muitas vezes quando meus próprios filhos eram mocinhos. Eles gostaram muito, porque o livro era engraçado, e tinha lógica, mas não pelas mesmas razões que eu, pois não tinham o contexto mental de papai, que eu tinha pois era apaixonado por ele.


                                                        Igor Zanoni

Pardais



Ito matava pardais
com um estilingue que fazia
os pardais eram considerados
uma praga
e não fazia mal matá-los
no verão quando saiam os içás
caçava também para fritar
as bundas dos içás
gordas cheias de ovos
acho que Ito era meio selvagem
todos nós na rua
ainda éramos meio índios
e tínhamos uma cultura cabocla
que hoje sumiu


                                          Igor Zanoni

quinta-feira, 30 de agosto de 2012

Minha alma



minha alma é uma poça
de água da chuva
na rua de terra
as pessoas desviam seu caminho
quando andam buscando o mercado
um cão ou outro vem beber
depois que a sujeira decanta
ninguém recolhe aqui
água para sua sopa
minha alma vale pouco
nesta periferia do mundo e da cidade
ninguém dela se enamora
mas os meninos brincam
e eu brinco com as crianças

                                                      Igor Zanoni
                                               

quarta-feira, 29 de agosto de 2012

Difícil



no ginásio aprendi
umas regras do bom viver
“não jogue m... no ventilador”
“já que a m... está feita
melhor não mexer mais nela”
e “não perca uma boa  ocasião
de ficar calado”
olhando para o passado
vejo como eu era mais sábio
como agora sem meus decálogos
minha vida ficou difícil

                                                              Igor Zanoni

sábado, 25 de agosto de 2012

Renda e gastos



Aprendi com meus antigos mestres que a renda nacional ou produto interno não é um saco de trigo tal que se destinarmos mais a salários restará menos para investimento. Ao contrário, a economia é dinâmica, e a renda também. Quando os salários sobem e aumentam os gastos dos assalariados, cresce mais que proporcionalmente a renda, estimulando novas iniciativas de investimentos, financiadas pelo sistema financeiro ou lucros retidos das empresas. Assim também, se o governo destina mais do seu orçamento a gastos correntes com salários do funcionalismo ou com áreas carentes como a saúde ou a educação, cresce igualmente a renda e com ela a parcela apropriada pelo sistema fiscal, de modo que o governo não precisa cortar investimentos para bancar aqueles gastos. Além disso, os investimentos públicos podem ser financiados pelo sistema financeiro, inclusive emissões do Banco Central, estimulando o círculo virtuoso de gastos e receitas ascendentes. Com o produto em expansão, não há motivo para os preços subirem. Nessa disputa tediosa e cruel com o funcionalismo que estamos assistindo, essas lições básicas parecem esquecidas. A ideia é que é preciso cortar gastos correntes para sobrar dinheiro para investimento e para não estimular a inflação. Essas ideias são de economistas liberais do século XIX, que permanecem por detrás dos interesses suspeitos dos que acham que o dinheiro deve ser curto, para estimular a poupança e o comedimento,  ou que as pessoas devem ganhar e gastar pouco, e colocar sua felicidade apenas na vida após a morte, como pensavam os párocos que discutiam economia naquele século.

                                                                        

                                                      Igor Zanoni
                                                                            

Sabedoria



1
alguns homens conseguem
conseguem se tornar sábios
na velhice
porque antes dela têm coisas
mais interessantes para fazer

2
a mente tem um enorme potencial
não utilizado para o que importa
no dia a dia e na vida prática
e ela o usa para o que é mais lúdico
e interessante

3
é curioso pensar em como os homens
conseguem sobreviver uns aos outros
dada sua imensa brutalidade
e falta de juízo
mas há sempre um número crescente
de vítimas

                                                                 Igor Zanoni

sexta-feira, 24 de agosto de 2012

Amigos



eu não sou uma fortaleza que se preocupa  apenas com a própria opinião. mas não me importo muito com a opinião de muitos sobre mim. eu seleciono quem devo ouvir e quem deixar de lado, ou mesmo zombar. no limite, tenho a opinião dos meus amigos. é impressionante como a opinião dos amigos é fundamental para a autoestima. mesmo que eles mudem com o tempo, e nós também, temos sempre uma reserva moral que o tempo não corrompe. os amigos nos dão carinho, proteção, apoio, nada melhor que um amigo. com a vantagem de não termos de nos casar com eles, pois o casamento é ótimo mas também um ambiente prá lá de favorável a brigas e contusões. eu sou como o romano insigne que disse: aos meus amigos, tudo, aos meus inimigos, a lei.

                                                           Igor Zanoni