sábado, 25 de agosto de 2012

Renda e gastos



Aprendi com meus antigos mestres que a renda nacional ou produto interno não é um saco de trigo tal que se destinarmos mais a salários restará menos para investimento. Ao contrário, a economia é dinâmica, e a renda também. Quando os salários sobem e aumentam os gastos dos assalariados, cresce mais que proporcionalmente a renda, estimulando novas iniciativas de investimentos, financiadas pelo sistema financeiro ou lucros retidos das empresas. Assim também, se o governo destina mais do seu orçamento a gastos correntes com salários do funcionalismo ou com áreas carentes como a saúde ou a educação, cresce igualmente a renda e com ela a parcela apropriada pelo sistema fiscal, de modo que o governo não precisa cortar investimentos para bancar aqueles gastos. Além disso, os investimentos públicos podem ser financiados pelo sistema financeiro, inclusive emissões do Banco Central, estimulando o círculo virtuoso de gastos e receitas ascendentes. Com o produto em expansão, não há motivo para os preços subirem. Nessa disputa tediosa e cruel com o funcionalismo que estamos assistindo, essas lições básicas parecem esquecidas. A ideia é que é preciso cortar gastos correntes para sobrar dinheiro para investimento e para não estimular a inflação. Essas ideias são de economistas liberais do século XIX, que permanecem por detrás dos interesses suspeitos dos que acham que o dinheiro deve ser curto, para estimular a poupança e o comedimento,  ou que as pessoas devem ganhar e gastar pouco, e colocar sua felicidade apenas na vida após a morte, como pensavam os párocos que discutiam economia naquele século.

                                                                        

                                                      Igor Zanoni
                                                                            

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