terça-feira, 24 de novembro de 2015

Florezinhas


depois deste vento há florezinhas no chão
não sei mais como se chamam essas flores
não são mais gerânios entre outras
ao lado do condomínio havia um grande quintal
com uma pequena plantação
agora cresce à toda outro condomínio
às vezes aparecem rolinhas como as de minha infância
mas acho que essa é a mesma que apareceu
três vezes só nesta semana
eu relaxo dando uma volta à tarde
mas surge uma obrigação de comprar alguma coisa
uma compulsão de aproveitar o resto do dia
em morretes um taxista disse que ali é calmo até demais
manuel bandeira comemorava a vida besta no seu velho recife
mas ele falava de outra coisa
lembro de noites em bertioga sob um uníssono de rãs
a angústia na juventude talvez fosse mais consequente
eu nunca soube bem para onde ir
minha vida foi conduzida pela falta de imaginação
mas tudo isso foi longe demais


                        (uma lembrança ao meu amado são Francisco de Assis)

                                                      Igor Zanoni

segunda-feira, 23 de novembro de 2015

Desatento




há tantos amores desatentos
o coração anda para lá e para cá
quem pode deter
quem pode dizer
vai fundo ou isso já foi longe demais?
como é doce amar
compreendendo ou não o que se passa
(mas é claro que isso não é bem assim)
há saudades de que faço questão
yo te añoro
llanos de dulze de leche para siempre
(um professor no ginásio sofismava
que o português é uma língua tosca
nela se diz brutalmente cão mas no francês
se diz docemente chien
o castellano também soa mais apropriado)


                                            Igor Zanoni

sexta-feira, 20 de novembro de 2015

Filme



você me diz : oi!
eu devolvo : oi!
vamos fazer alguma coisa?
correndo damos as mãos
essas aí são um grude!


                                             Igor Zanoni

quinta-feira, 19 de novembro de 2015

Volta

um dia você volta
a terra gira
a Luzitana roda
e um dia o caminhão de mudanças
traz de volta a sua muamba
os gregos perceberam o eterno retorno
os milhares de éons trazem milhares de Budas
Freud explicou nossa compulsão à repetição
e os jazzmen reinterpretam
meia dúzia de standards
eu conto com a boa tradição
estes versos para garantir suplicam
volta vem viver outra vez ao meu lado


                                                                             Igor Zanoni

quarta-feira, 18 de novembro de 2015

So beautiful


Eu via Denise na escola dominical e eventualmente na Unicamp. Ela não teria motivo para me dizer nada, mesmo que uma vez tenha me dito e eu não tenha sabido o que fazer. Eu também teria pouco assunto a não ser para criar um grande embaraço. Sobrava-me ficar o mais próximo possível, mudo, contemplando o que pudesse contemplar com toda intensidade. Mas nessa inquietude pensava: como você pode existir? Muitos anos antes meu filho mais velho não conseguiu também dizer o que sentia contemplando o rosado da pele da Juju na Escola Oficina. Aqui obviamente lembro de Joe Cocker errando a letra de um velho blues soluçando: you are so beautiful to be...


                                                                              Igor Zanoni