quarta-feira, 16 de fevereiro de 2011

Casos reais de consultório


Casos reais de consultório

Em uma de minhas primeiras sessões de psicanálise o doutor disse que seu preço era muito alto e que eu deveria procurar outro analista. E me ensinou o princípio de realidade com o comentário: Se você não pode ir de Mercedes, vá de Fusca.
Já em outro analista, prometi ser um bom paciente de análise e disse que estava ali porque queria melhorar como pessoa. Ele não entendeu, mas por dentro de sua cara imperturbável imagino que sorriu.
Uma outra analista com quem estava há alguns anos deu alta a si e a mim com as palavras: Você não tem nenhuma dificuldade exceto me pagar tudo o que deve.
Em um analista disse que queria estudar teologia para entender melhor meu passado religioso. Ele perguntou por que eu estava lhe dizendo isso, já que ele não era padre.
Depois de fazer sessões na poltrona, um analista me mudou para o divã. Eu estranhei mas ele respondeu: Você quer me controlar com os olhos, por isso recusa o divã?
È verdade que tive muitos momentos ruins em que não tinha dinheiro e não paguei meu analista. Alguns me atenderam outros me recusaram. Um deles me disse: Eu vou ver quanto você recebe, o que precisa pagar e vou dividir o resto, deixando um pouco para você. Ele foi bondoso e me socorreu várias vezes, e eu entendi que para um analista pagar a psicanálise é o primeiro dever, assim como para o analisado a relação com seu psicanalista é mais importante que seu casamento.
Em uma das minhas primeiras sessões, incerto sobre o que eu estava fazendo ali, quis perguntar sobre isso e disse sem jeito: Para Freud as neuroses têm raízes sexuais, o senhor acha que eu tenho também algum problema sexual?
Um analista ouvia tudo que eu dizia sem comentários, exceto quando errava um nome ou trocava uma palavra. Aí ele pulava; Ah rá! Explique esse engano.
Achando que a análise não andava, comentei que queria ler o livro de Robert Pirsig, O Zen e a Arte de de Manutenção de Motocicletas. Ele respondeu se eu estava pedindo para ele comprar o livro.
Uma analista era tão bonita e meiga que eu perguntei porque ela me tratava tão bem. Ela respondeu: As pessoas chegam aqui nas piores condições, não vou piorar seu mal-estar.
Em um dos meus analistas sofri tanto que não consegui mais abrir a boca, mas ele me perseguiu com um: O que significa esse silêncio?
Muitas vezes quis perguntar sobre Freud, até entender que uma das primeiras regras da psicanálise era deixar de lado esse tipo de curiosidade. Outro me respondeu: Ué, você já não leu a edição standard das suas obras?
Nem tudo era necessário, eu era muito ignorante e ingênuo, desisti muitas vezes e recomecei outras tantas. Os analistas no fundo são bondosos e humanos, mas a técnica não permite grandes expressões de simpatia. Um amigo casado com uma analista contou-me que quando esta chegava em casa ficava acabada no sofá pelo resto da noite.
Eu fiz um tempo terapia com ela, que disse que só ia me aceitar porque eu era engraçado.

                                                                                                                Igor.


                                                                                                             

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