quinta-feira, 17 de fevereiro de 2011

Humano


Humano

Em Humano,demasiado humano Nietzsche se mostra totalmente aliado ao Iluminismo e à Ciência, ao Racionalismo moderno. Para ele, a crítica da religião e da arte pode ser feita desta perspectiva, como um desvelar de valores e signos que estão aquém do que o homem pode conquistar para si, em sabedoria e prazer sem remorso da vida. Os seres humanos, em seus contextos sociais e psicológicos, em sua cultura, podem recair sob o julgamento imparcial da ciência, que explica esses contextos e esses seres de modo exaustivo, e este é um passo decisivo para a liberdade humana. Também Freud recaiu sob esse positivismo, quando tentou fazer da psicanálise uma ciência exaustiva da alma, de modo que cada indício humano, um sonho, por exemplo, é totalmente e rigorosamente determinado pelas leis dessa ciência que tece de novo esse indício e esse ser humano. Na verdade, a interpretação de um sonho nunca pode ser completada, pois envolve uma totalidade da vida humana até o mais remoto rincão. Interpretar seria fazer um mapa do império que recobrisse o império, lembrando Borges, e nesse sentido é inútil levá-lo muito adiante. Basta as direções principais. Todavia, na própria Interpretação dos Sonhos já se percebe a intromissão do desejo na interpretação e, portanto, a impossibilidade da psicanálise ser uma ciência positiva, ou mesmo uma ciência. A psicanálise deve desenvolver seus procedimentos heurísticos sem se confundir com a filosofia ou a ciência, deve se conservar nesse território inconcluso que é a psicanálise. Em A Vida do Espírito, Hanna Arendt faz uma distinção entre razão e entendimento, e entre a ciência e a interpretação ou sentido. A primeira pode requerer para si uma positividade, a segunda não, embora seja crucial ao direcionamento da vida, pois indica como podemos e queremos percebê-la. A liberdade, aí, aparece como dom humano. Comentando a produção científica moderna, em especial a história e a psicanálise, o historiador Edward Palmer Thompson disse em Miséria da Teoria que elas não poderia ser deterministas, e lembra que é preciso crer no preconceito protestante da liberdade. È esse preconceito que nos guia em nossas contradições, mantendo-nos coerentes em meio a elas graças ao nosso desejo (Jacques Derrida). Eterno mal-estar na cultura, pois no princípio é sempre o desejo

                                                                                                            Igor

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