quarta-feira, 16 de fevereiro de 2011

Escola 2


Escola 2

Pensando nas diferenças entre o ensino fundamental e o médio que cursei e o de meu filho que está na sexta série neste século XX , é fácil elaborar uma lista compreensível e nas razões dessas diferenças. Estas últimas se originam nas duas grandes crises do último quartel do século xx, a crise do milagre sobreposta à do petróleo, e a crise da dívida externa que condiciona fortemente nosso estilo de crescimento e nossas opções políticas e econômicas nos anos 80 até este final de primeira década do século XXI, quando outra crise internacional veio travar a economia nacional dada a sua estrutura , herdada das outras duas mencionadas. Este período longo e turbulento se passa dentro de um quadro ainda marcado no Brasil por um contestado mas sólido poder político da direita tradicional, dos grandes proprietários de terra e donos do Congresso , com enorme poder local e regional, e a direita liberal e privatizante de matriz udenista com eixo no PSDB e poder nos grandes centros urbanos de São Paulo e Minas Gerais. A opção hoje no poder, de matriz desenvolvimentista associado a um conjunto de emergentes, os chamados BRIC, tem uma visão social e democrática mais expressiva e de maior apelo popular, sintonizando-se com a maior parte da América do Sul mas ainda deixando de lado questões fundamentais ao futuro do país e do mundo, como a do meio ambiente, como se vê na ênfase dada ao ecologicamente anacrônico petróleo das camadas recém descobertas do pré-sal.  Por outro lado, esta instabilidade econômica com estabilidade política conservadora majoritária ocorreu no contexto de um país que viveu uma grande revolução agrária e agrícola, uma urbanização criadora de metrópoles marcadas pelo desemprego, a fome, a desigualdade social e políticas sociais incapazes de atuar sobre o novo quadro urbano de forma coerente, rápida e eficaz. A revolução tecnológica associada à crise e ao novo paradigma neoliberal dominante nos anos noventa e ainda não totalmente exorcizado aumentou nosso desemprego e marginalidade estruturais, e a educação, em particular, de pequena importância no campo tradicional, passa a ter uma importância nas novas metrópoles inédita no Brasil por seus cruzamentos com saúde, desigualdade, saneamento, expectativa de vida e assim por diante, embora sem resolver por artes de um hipotético capital humano as dificuldades materiais e culturais da maioria da população brasileira, agravadas por uma mídia venal e elitista. O panorama é o de introdução do tráfico e da violência, da extremada apartação social, da impossibilidade de cumprir o espírito da constituição generosa e de caráter democrático e popular elaborada em 1988, a Constituição Cidadã. a classe média se fragmenta e inclui pessoas com dinheiro, remediadas e pobres, de onde vêm o maior contingente candidato às melhores escolas. Estas são em geral privadas no ensino fundamental e médio, demonstrando uma habilidade em oferecer formas de um aluno ser bem sucedido no vestibular, mas sem expressar uma visão de mundo política  e socialmente generosa . As escolas públicas caíram no pântano da falta de quadros e de verbas, derivando para mau material didático, professores desmotivados e mal aceitos pelos alunos, porque estes têm consciência da precariedade da ajuda que a escola pode dar dados antes seus enormes déficits pessoais. Os pais dos alunos em geral não estão preparados nem motivados ou com paciência para suprir o que a escola não dá, em virtude mesmo de sua própria precária escolaridade e baixo grau de politização. a escola privada oferece um mix de matérias que procuram resguardar o aluno no futuro profissional, pensado já nos primeiros anos da vida da criança, como inglês, às vezes outras línguas, ensino e material didático padronizado pelas grandes escolas privadas, como o Positivo, e para o “wellness” da criança e do adolescente ministram-lhe aulas de dança, capoeira, judô, e assim por diante. As maiores escolas do terceiro grau são ainda as públicas, mas seu ingresso se dá por este nefasto vestibular, elitista e injusto socialmente. Há boas escolas privadas no terceiro grau, em geral com uma ideologia privatizante, mercantil e sempre vendida muito caro. Nesse panorama, o ensino fundamental e médio fica desamparado do governo e dos pais, inclusive porque teria sido preciso montar uma elite de professores em diversas áreas rapidamente, num país a rigor ainda carente dessas elites mesmo nos centros maiores, se quiséssemos incluir todos os alunos, como manda a lei para o ensino fundamental e a alfabetização. O resultado são professores que os alunos não sabem apreciar, até porque são pouco apreciados e compreendidos pelos professores. O tráfico sitia a escola, bem, como a violência, assim como o ambiente hostil da escola, quebrado apenas pela solidariedade dos grupos de amigos e/ou parceiros sexuais, ainda que muito jovens . Meu filho vive diretamente este quadro, pois estuda em uma escola pública, embora de qualidade acima da média uma vez que muitas dessas escolas são adotadas pelo bairro e se saem melhor em termos de ensino, mas dentro sempre do quadro geral do ensino/profissão. Minha mulher e eu ajudamos nas lições meu filho, ele é dedicado, tem atenção de um psicólogo e complementa seus estudos com leitura e outras atividades, como a freqüência ao Kummon de matemática e logo mais de inglês, esperamos. Todavia ele é um dos poucos de sua classe que saíram mais cedo de férias. A maior parte amarga a temida recuperação. Mas o futuro de meu filho, quando for para o ensino médio, será candidatar-se ao apertado exame das poucas escolas públicas de qualidade em Curitiba, como o Colégio Estadual, ou passar para o ensino privado como os meus filhos mais velhos. E seus problemas continuarão na faculdade.

                                                                                                            Igor

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