quarta-feira, 23 de fevereiro de 2011

Graciliano Ramos


Graciliano Ramos

quando tive pela primeira vez um episódio de depressão que durou de forma aguda alguns meses e mais branda muitos anos, confundindo-se com outros episódios, não achei graça nenhuma. espantei-me com o quanto se pode de repente sair do rumo, mudar expectativas e caminhos, sair dos velhos trilhos, ter de repensar a vida toda, em seus três tempos. nessa época tive a sorte de encontrar no sebo que eu, estudante pobre, o que aliás é um pleonasmo, frequentava,obras de Graciliano. senti minha cabeça arder com a leitura de Insônia, Infância, Angústia e tudo o mais dele. acho que Graciliano foi o Dostoiévski nosso, socialista, triste, encalacrado entre a vida política, o trabalho de funcionário e o viés existencialista . pouca gente hoje fala de Graciliano. há um tempo houve uma coqueluche, justa, de Machado de Assis. quase ao mesmo tempo uma de Guimarães Rosa, também justa, mas por que não uma de Graciliano? É claro que se filmou Vidas Seca, São Bernardo, com a bela Isabel Ribeiro, filmou-se também Memórias do Cárcere, mas para mim isto foi pouco. a depressão não é tão pós moderna? o que incomoda em Graciliano? sua exigente expressividade, às vezes quase tosca e agressiva, ao falar de seu pai por exemplo?   acredito que a depressão tem muitas formas de surgir na vida social e individual. talvez a de Graciliano seja dolorosa demais para a nossa contemporaneidade truncada entre a violência, a pobreza material e ética, e outros dilemas de nosso final de mundo.
               Igor

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