sexta-feira, 9 de maio de 2014

Helena Kolody



Helena Kolody escreveu um pequeno poema considerado lapidar e reproduzido em murais, como o da Biblioteca Pública do Paraná, inclusive pelo status que ela ganhou como uma representante oficiosa da cultura do Estado. O poema diz: “Para quem viaja ao encontro do sol / é sempre madrugada”. À primeira vista, ele é um achado beletrista sem grande significado, buscando um efeito encantador. Mas indo adiante se pode pensar que ele veja a vida de cada um como fluxo, obrigando a ter em conta o passado e o futuro quanto aos nossos objetivos, sobretudo os que podemos chamar maiores, ou definidores de grandes realizações e de nossa felicidade. Podemos imaginar alternativas e indagações, como: alcançar tais objetivos na verdade é impossível, permite-nos fugir da noite de nossa insuficiência, mas nunca plenamente. Seria a madrugada uma penumbra, de qualquer forma uma penumbra anunciadora do dia, ao contrário daquela, inversa, do pôr do sol de nossas esperanças e esforços? Há, por outro lado, uma valorização da madrugada, um momento no qual ainda há tanto por redefinir e repensar, antes que venha o dia pleno? Ou o dia pleno não convém por ser uma claridade que podemos desejar, mas nunca suportar? Deve haver outras indagações possíveis, mas uma se impõe: o que exatamente a Biblioteca, como órgão público, desejou que seus variados frequentadores percebessem, ao entrar ali para procurar um livro ou um autor? Há uma intenção didática implicada no seu mural com o poema, uma implicação talvez política? Ou apenas se homenageou mais uma vez a poetisa com um poema anódino, o tipo de poema que se parece realmente com um poema?

                                       Igor Zanoni

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