Helena Kolody escreveu um pequeno poema considerado
lapidar e reproduzido em murais, como o da Biblioteca Pública do Paraná,
inclusive pelo status que ela ganhou como uma representante oficiosa da cultura
do Estado. O poema diz: “Para quem viaja ao encontro do sol / é sempre
madrugada”. À primeira vista, ele é um achado beletrista sem grande
significado, buscando um efeito encantador. Mas indo adiante se pode pensar que
ele veja a vida de cada um como fluxo, obrigando a ter em conta o passado e o
futuro quanto aos nossos objetivos, sobretudo os que podemos chamar maiores,
ou definidores de grandes realizações e de nossa felicidade. Podemos imaginar alternativas
e indagações, como: alcançar tais objetivos na verdade é impossível,
permite-nos fugir da noite de nossa insuficiência, mas nunca plenamente. Seria
a madrugada uma penumbra, de qualquer forma uma penumbra anunciadora do dia, ao
contrário daquela, inversa, do pôr do sol de nossas esperanças e esforços? Há,
por outro lado, uma valorização da madrugada, um momento no qual ainda há tanto
por redefinir e repensar, antes que venha o dia pleno? Ou o dia pleno não convém
por ser uma claridade que podemos desejar, mas nunca suportar? Deve haver
outras indagações possíveis, mas uma se impõe: o que exatamente a Biblioteca,
como órgão público, desejou que seus variados frequentadores percebessem, ao
entrar ali para procurar um livro ou um autor? Há uma intenção didática implicada
no seu mural com o poema, uma implicação talvez política? Ou apenas se
homenageou mais uma vez a poetisa com um poema anódino, o tipo de poema que se parece
realmente com um poema?
Igor
Zanoni
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