Conversa ao adormecer

À noite ao adormecer

Converso comigo

Ou com meu amigo Jesus

Muitos dirão -que tolice!

De que vale isso

Mas quem começa a conversar

Com a própria vida

E compreendê-la

Há de conferir a isto

Certo sentido amoroso

E sagrado

Meu Jesus me ouve

Por muito tempo

E me diz o que no fundo

Eu penso ou quero saber

Felizes os que conversam

Muitos são mais calados

Que um túmulo caiado

                                                                 Igor Zanoni

Memória velha

Memória velha

Coisas que eu já deveria

Ter dado conta

Para as quais eu poderia sorrir

Com a necessária condescendência

Ou sofrer em um secreto desgosto

Como um homem velho

Que viveu seus tempos difíceis

Mas criou uma defesa

Uma sabedoria sem a qual

É impossível viver

Sustos antigos saltam na noite

Sonhos confusos

Desejos sem sentido

Levanto-me vou cuidar do dia

Do dia que mói com seus dentes

Não, não sou um sábio

Poderia ao menos ser paciente

Não me levar tão a sério

Mas a fórmula dessa quietude

Me escapa

                                                           Igor Zanoni

Descaminhos

Eu te buscarei em Gilgit

E no Baldistão

Seguirei todos os caminhos

Do Livro das Maravilhas

Correrei a estrada da seda

Até a corte do Grão Cã

Ouvirei os sons fantasmagóricos

Do deserto de Gobi

Entre as tendas dos criadores

De cavalos

Nas rotas mais prováveis

E nas mais improváveis

Se for preciso atravessarei

O estreito de Bering

Desembarcarei no Kansas

Buscarei você entre os sioux

E os navajos

E no caminho que Lao Tsé

 Tomou ao partir

Nas sendas de Oku

Na estrada de Damasco

Em Iasnaia Poliana

Perguntarei por você

Não pense que te deixarei

Que o fim é possível

Para este viajante

Nas mãos o mapa imperecível

Apontando caminhos

E descaminhos

                                                                           Igor Zanoni