Paulo e Estevão é o primeiro romance do Espírito Emmanuel psicografado em 1941 por Chico Xavier. Embora ele tenha um fundo bíblico e histórico, é antes uma visão espírita do apóstolo Paulo e uma exposição doutrinária do espiritismo. Sem tentar resumir uma história tão grande e rica em incidentes, desejo apenas lembrar alguns pontos para corroborar o que afirmei. Assim, Paulo é o grande perseguidor fariseu dos cristãos em Jerusalém e cercanias, e é o responsável pelo apedrejamento de Estevão. Este é um judeu de Corinto, de nome Jesiel que se muda para Jerusalém adotando o nome pelo qual o conhecemos. Ele se torna cristão e um ardente pregador da nova fé. Paulo também vivera em Corinto, embora não conhecesse Jesiel, e se torna noivo de sua irmã Abigail, antes dela se tornar cristã. Paulo também se torna cristão após a morte de Estevão e o incidente na estrada de Damasco. Nesta cidade encontra seu velho mestre, o rabino Gamaliel, que se tornara cristão também, e Ananias, que o induzem a passar tres anos no deserto estudando o evangelho que começava a ser escrito. Paulo deixa sua vocação de tornar-se rabino e vai trabalhar como tapeceiro, um trabalho manual e rude. Mas Estevão e Abigail surgem-lhe frequentemente em visões e ensinam o evangelho a Paulo. Aliás, Paulo é um homem que tem muitas visões, como narra o relato bíblico. Mais tarde Paulo vai a Jerusalém conhecer Pedro, Tiago, João e outros discípulos, quando se inicia a pendência entre cristãos judaizantes e Paulo, que defende uma posição de apóstolo dos gentios, pregando que estes podem se abster de antigos ensinamentos de Moisés como a circuncisão. A pendência demora a ser resolvida e Paulo parte para toda a região do Mediterrâneo ensinando, criando muitos centros de difusão do cristianismo e escrevendo suas cartas. Aliás, estes centros lembram os modernos centros espíritas, realizando-se ali curas, pregações e atividade mediúnica. Mais tarde Paulo é preso e é nessa condição conduzido a Roma, onde após ser solto e visitar a Espanha, volta a Roma e morre sob Nero. Logo após sua morte tem uma visão espiritual da vida extraterrena e é consolado por inúmeros espíritos. Tudo isto é bem a doutrina espírita. Mais claramente, o livro todo não menciona o maior ensinamento de Paulo, tal como bem exposto na Carta aos Romanos, o da justificação pela fé. O texto enfatiza antes a disposição para o trabalho e o sacrifício, o perdão incondicional e o amor, também valorizado por Paulo nas suas cartas. Há nele um louvor da humildade e da pobreza. O livro é romanesco, escrito em estilo elevado, com palavras raras e antiquadas. Como poderia Chico Xavier tê-lo escrito, ele que sequer tinha o curso primário completo? Mas como conciliar o livro com o que sabemos de Paulo dos Atos dos Apóstolos e das epístolas? Não tenho como decidir sobre isso. Apenas me parece que Paulo e Estevão é uma leitura espírita de Paulo, feita à luz da doutrina espírita.
Igor Zanoni
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