segunda-feira, 7 de março de 2011

Maya e budismo



Maya e budismo

No hinduísmo assim como no budismo, que se formam por volta de 2500 anos atrás na India como uma resposta à ortodoxia védica, o centro da vida humana é entendido como maya, isto é, como ilusão, no sentido de que a visão que os seres humanos têm da vida parte de sua ignorância primordial acerca do que a vida é ou não é, e de uma escolha que eles fazem a partir de seus desejos sobre como perceber a vida e como se tornar uma personagem dela, ou seja, uma personagem de si mesmo. O véu de maya sobre os homens e o mundo permite conhecimento e ignorância ao mesmo tempo, e uma vida anímica rica e contraditória, repleta de alegrias e de sofrimentos, uma vida difícil.
A visão que os homens têm é ao mesmo tempo visão de certas áreas da vida e impossibilidade de ver outras. Isto cria uma vida condicionada na qual vemos o que podemos ver e não vemos o que não podemos. Este é o primeiro elo na construção da vida humana, chamado avydia ou ignorância. A partir desse elo construímos toda a nossa existência de sua concepção a sua dissolução, e todos os movimentos de prazer, raiva, afeto e outros aspectos da psique. Nesse contexto construímos visões de nós mesmos e geramos energia para defender essas visões contra as visões e os atos dos outros. Nesse sentido o homem é um ser conflitivo e a vida uma praça de guerra.
O mais interessante em tudo isto é que maya é construído, isto é, é forjado através de condicionamentos e da possibilidade que os homens têm de acessar certos níveis de compreensão a partir de sua liberdade inerente de construir a si e ao mundo, e que lhes permitem atuar no mundo e senti-lo.  Viver nessas condições cria certos aspectos desta junção problemática entre Eros e psique, ignorância e conhecimento, como a impermanência de todas as experiências. Não é possível sustentar duradouramente maya, pois a vida se torna um contínuo construir e descontruir da própria vida, no limite, porque a morte a interrompe. Em segundo lugar, porque tudo o que se passa em nossa mente, nossas ações e a energia com que vivemos nossas emoções e nossas visões de mundo cria uma bagagem que temos de sustentar ao longo de nosso percurso. Tudo em nós gera conseqüências, agravando ou aliviando nossas dificuldades na vida. Isso é chamado de carma. Além disso, a vida se torna basicamente sofrimento e uma luta contra o sofrimento que não temos sabedoria suficiente para travar.
Ganhar essa sabedoria começa por dar á vida sua dignidade e considerá-la suficientemente preciosa para não desgastá-la na roda infinita da vida. O primeiro passo para alcançar sabedoria consiste em uma  série de proposições éticas como não fazer o mal, fazer o bem aos outros e ter um coração bondoso. Essas proposições são bastante detalhadas no budismo, aqui apenas deixo-as indicadas. o seu cerne é a compaixão, isto é, o cuidado amoroso por si e por todos os seres, a construção de um intento ou aspiração de buscar nossa unidade escondida por maya, unidade conosco e com todos os seres. A conquista desta unidade exige um percurso mais ou menos longo, na qual buscamos aquietar nossa inquietude, nossos condicionamentos através de técnicas meditativas, e buscar uma sabedoria gradualmente, que consiste no conhecimento de como construímos a  vida e de como abandonar essas construções.
Se conseguimos abandoná-las, encontramos um vazio luminoso que é nossa natureza última perdida no véu de maya, dissolvemos nossa individualidade no oceano da vida e deixamos de ser bolhas isoladas desta vida, problemáticas e impermanentes. Podemos ao mesmo tempo antes de chegar a essa conquista árdua que é a liberação fazer o voto de ajudar todos os seres a alcançarem essa liberação e agirmos como pessoas sábias capazes de compaixão e ações positivas na vida do mundo

                                                                                                                         Igor Zanoni

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