Como me chamou a atenção meu amigo Ednilson, quem assiste la Dolce Vita custa a se situar e entender do que trata o filme. O personagem principal, Marcelo ( vivido por Marcelo Mastroianni), é um escritor mas ainda não escreveu o livro que deseja, trabalha como jornalista junto a dezenas de paparazzi e se envolve com muitas mulheres, artistas que recebe em Roma ou membros da aristocracia que vivem uma vida pouco compreensível, em festas e deslocamentos, vida entregue ao ócio e ao descompromisso. Marcelo não tem sequer uma casa, vive aqui e ali, escapando da noiva que lhe tem um amor que ele considera infantil e ingênuo, sufocante. Um amigo, a quem exprime insatisfação por sua vida, diz-lhe que esta é a verdadeira vida e que não ambicione outra, como a que vive ele próprio. O amigo terminará por matar a tiros seus dois filhos e a si mesmo. É interessante que as cenas, sempre em preto e branco, indicam os anos da guerra a princípio, por exemplo, pelas luzes de holofotes no céu, mas depois se passam nos anos cinquenta e sessenta, o que se percebe pelos modelos dos prédios novos e dos automóveis. O descompromisso com qualquer valor duradouro da aristocracia italiana fica assim narrado, mesmo que o tempo passe e que eventos como guerra e reconstrução aconteçam. Fellini é um sagaz crítico do país que ama, como se vê também em La Nave Va e outras películas.
Igor Zanoni
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