domingo, 20 de maio de 2012

Claus

Claus

Conheci o Claus quando vim para Curitiba, em 1981. Eu viera para trabalhar num diagnóstico da economia e sociedade do Paraná, no Ipardes, e Claus era funcionário público, acho que da Secretaria da Agricultura, escolhido pelo governador José Richa como secretário da pasta no ano seguinte. Homem de convicções fortes, da mais ortodoxa esquerda, filho de alemães, irônico, às vezes ríspido e sem conversa. Depois trabalhamos juntos no mesmo Ipardes, e mais tarde nos encontramos na UFPR como professores da casa. Mas o que eu quero dizer é que há cerca de vinte anos, eu estava na cantina tomando um café e o Claus de passagem comentou que estivera doente, com artrite, e perguntou minha idade. Quarenta, eu disse. Quarenta! Ah os meus quarenta anos! Queria ter quarenta anos agora! Uma década depois a história se repetiu. Passou uma moça, professora também, e ele, muito machista, comentou: Como essa moça era bonita! Mas agora, está gorda! Mas anos atrás eu disse para ela como ela era bonita e atraente! Naquela época eu era mais forte também, gostava de uma bela mulher, como essa! E perguntou: Quantos anos você tem? Eu respondi: Cinquenta. E ele: Ah os meus cinquenta anos! Queria ter cinquenta anos! Mas como o tempo não para, Claus agora está se aposentando compulsoriamente, por fazer setenta anos daqui a pouco tempo. Ele me perguntou no café: E você, não vai se aposentar? Quantos anos você tem? Eu disse: Cinquenta e nove, mas estou bem e não quero me aposentar tão já. Ele novamente fez o comentário: Ah meus cinquenta e nove anos! Queria ter cinquenta e nove anos! Como eu era forte! Queria ter cinquenta e nove anos agora! Ele sempre me tratou com simpatia e distância ao mesmo tempo, mas com esses comentários dispersos ao longo de tantos anos, mostrou quanto amou a vida e quanto lhe custa a sua passagem!

                                                    Igor Zanoni

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