Meu pai tinha alguns livros, não uma biblioteca. Os mais antigos eram um “Inglês sem Mestre”, algumas edições da Bíblia e livros da Ellen White, como “Nutrição e Vigor” e “O Conflito dos Séculos”. Eram livros do início de sua maturidade, ou antes. Estudou bastante esses livros, era um autodidata em teologia, suficiente para confundir os pastores da Igreja
que frequentávamos e acabamos deixando. Depois andou comprando livros da Shirley MacLaine e de Carlos Castañeda, e as obras completas de Massaharu Taniguchi. Comprou também um volumoso “Treinamento Autógeno”, de Schulz, que leu e praticou até conquistar um domínio admirável sobre seu corpo. Esses livros me interessaram, alguns li, mas depois deixei todos, como ele também. Mas sempre me pareceu que ele tinha poucos livros de música, pois era formado em Teoria e solfejo pela Escola Nacional do Rio. Lembro de uma coleção sobre óperas, muito boa, que li e gostei, passando a compreender um pouquinho do assunto. Eu gostava de música e estudei um pouco piano, então esses livros me souberam bem. Mas papai também era cirurgião-dentista, e no seu consultório, como todos os dentistas e médicos fazem, havia alguns livros em exibição, talvez para os clientes se impressionarem, talvez porque não tenham espaço em casa. Entre estes havia muitos em espanhol, dos tempos de faculdades. lembro de um bem grosso chamado “Paradencio”. Continha muitas figuras, especialmente de lesões, cânceres bucais, má formação dos maxilares, todos os horrores para os quais um dentista devia estar preparado. Era o meu favorito e eu passava horas folheando-o. Papai também era bom dentista, e foi quem diagnosticou o câncer o câncer na boca de seu Benjamin, nosso vizinho no Castelo cuja família era próxima a nós. Não sei o fim desses livros depois que ele faleceu. Gostaria de ter guardado o precioso “Paradêncio”.
Igor Zanoni
Foi papai que na verdade me insentivou a leitura e nos livros dele comecei a minha busca de conhecimento... Alguns ele me entregou nas mãos como Paramahansa Yoganda que li duas vezes, de Castañeda lembro a Erva do diabo... Vejo em mim o que nele não vingou, a paixão pela vida. acho que ele não compreendia bem essa coisa de viver...
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