sábado, 30 de junho de 2012

Pretensão


É uma perigosa pretensão achar que se pode dar um ponto final a uma discussão sobre um tema ou situação na vida. E um enorme complexo de superioridade pensar que se pode escolher na vida a posição ideal, inatacável. Pense nisso quando se aventurar seja pela ortodoxia seja pela heresia, seja pela ciência ou filosofia. Tudo que se pensa ou escreve será sempre datado, e ao final de um tempo será superado ou discutível, ou ganhará um novo contexto não imaginado. Tomo o exemplo de uma heresia como o tolstoísmo.  O grande russo pensa na profunda compatibilidade, até quase mais que isso, entre o comunismo e o cristianismo, ou na aversão que um homem sente por si ao explorar empregados ou o autodesprezo de um empregado explorado. São ideias interessantes, comoveram a muitos, com base nelas Tolstoi voltou a escrever, comprometido com a formação de uma colônia libertária nos Estados Unidos. Daí saiu o magnífico Ressurreição. Mas há quem respeite Tolstói em seus livros anteriores ao tolstoismo e despreze esta filosofia generosa, às vezes inocente. Mas há muitos comunistas ortodoxos que não admitem ideias religiosas, e também se abriu uma brecha contra a religião após Schopenhauer. Não me importa ser o avesso do que pensam de mim, a vida é difícil e intrigante. Vou buscando caminhos como posso. Com cuidado pela ética, a política, a lógica e a verdade, e as formas como cada uma remete-se ás outras, para parafrasear Foucault. Mas muitas vezes se é preso à sua experiência, à sua incongruência e irredutíveis solecismos. Isso é chamado pelo budismo de avydia, ignorância, ver isto e não ver aquilo. É assim mesmo.

                                               Igor Zanoni


                                                    

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