quinta-feira, 6 de dezembro de 2012

Augusto dos Anjos


1.       Entre os poucos livros de papai havia dois de poesia: a obra de Bilac completa e o ”Eu e outras poesias”, de Augusto dos Anjos. O primeiro se explica: ainda jovem, conheci Bilac como o “Príncipe dos Poetas Brasileiros, que escreveu o famoso:” Ora, direis, ouvir estrelas...”, tão celebrado  e declamado nos antigos recitais pelas antigas estrelas desses doces encontros ( outro poema favorito delas era o “não sei por onde vou..”, de José Régio). Ademais, Bilac é o patrono do Exército brasileiro, e meu pai era militar. O outro livro talvez se explique por sua encantadora rudeza e estranheza, ficou um bom tempo esquecido, depois foi reabilitado por Ferreira Gullar em edição comentada. Papai era do Corpo de Saúde, e devia gostar de poemas tão pouco líricos como “Eu, filho do carbono e do hidrogênio...”(acho que era isso, meus livros estão tão empilhados na sala que não posso conferir). Para mim, esses livros estranhos foram minha introdução à boa poesia. Depois tive minha fase Guilherme de Almeida, um poeta injustamente esquecido, para afinal no colegial conhecer Fernando Pessoa e outros realmente grandes e contemporâneos, menos no tempo que no seu existencialismo e lirismo tão próximo de nossa luzitanidade. Mais tarde ainda, fiz minhas própria seleção, que logicamente incluía Bandeira, Drummond, Cecília Meirelles e outros do grande modernismo, bem como muitos estrangeiros(Camões, Yeats, Keats, John Donne, Cummings...). Mas a origem de tudo foram os livros de poesia de meu estranho pai.  

                                           Igor Zanoni

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