1. Entre
os poucos livros de papai havia dois de poesia: a obra de Bilac completa e o ”Eu
e outras poesias”, de Augusto dos Anjos. O primeiro se explica: ainda jovem,
conheci Bilac como o “Príncipe dos Poetas Brasileiros, que escreveu o famoso:”
Ora, direis, ouvir estrelas...”, tão celebrado e declamado nos antigos recitais pelas antigas
estrelas desses doces encontros ( outro poema favorito delas era o “não sei por
onde vou..”, de José Régio). Ademais, Bilac é o patrono do Exército brasileiro,
e meu pai era militar. O outro livro talvez se explique por sua encantadora
rudeza e estranheza, ficou um bom tempo esquecido, depois foi reabilitado por
Ferreira Gullar em edição comentada. Papai era do Corpo de Saúde, e devia gostar
de poemas tão pouco líricos como “Eu, filho do carbono e do hidrogênio...”(acho
que era isso, meus livros estão tão empilhados na sala que não posso conferir).
Para mim, esses livros estranhos foram minha introdução à boa poesia. Depois
tive minha fase Guilherme de Almeida, um poeta injustamente esquecido, para
afinal no colegial conhecer Fernando Pessoa e outros realmente grandes e contemporâneos,
menos no tempo que no seu existencialismo e lirismo tão próximo de nossa luzitanidade.
Mais tarde ainda, fiz minhas própria seleção, que logicamente incluía Bandeira,
Drummond, Cecília Meirelles e outros do grande modernismo, bem como muitos
estrangeiros(Camões, Yeats, Keats, John Donne, Cummings...). Mas a origem de
tudo foram os livros de poesia de meu estranho pai.
Igor
Zanoni
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