há romances bons, verossímeis ou até bem documentados,
nos quais os personagens são coerentes, bem construídos. nesses romances há
tudo que o público em geral, embora aqueles não se dirijam a este, espera ou
sente prazer: diálogos tensos, relacionamentos difíceis, cenas de amor e sexo originais
e prazerosas, política de uma época ou ainda atual, e assim por diante. Acho
que um bom exemplo são os romances, com trabalhado tecido histórico, do português
Miguel Sousa Tavares, Equador ou Rio das Flores. No primeiro, o tema é o final
da escravidão na última colônia português a mantê-la, as ilhas de São Tomé e
Príncipe, no golfo da Guiné, sob pressão inglesa, no início do século XX e
final da monarquia lusitana. Cerca esse tema as desventuras do governador da
ilha, recém-designado por Dom Carlos e um dândi liberal que quer abolir a
escravidão de fato, embora os plantadores locais queiram mantê-la, e Portugal apenas
disfarçá-la . No segundo a estrutura da narrativa é parecida, com o tema do
salazarismo e do franquismo eclodindo na península ibérica e seus diferenciados
impactos sobre latifundiários, um povo comum cansado da república com suapolítica
turbulenta e finanças mal controladas. são livros bons, que recomendo, mas há
diferença entre um livro bom e um grande livro, com o pathos de Juan Carlos
Oneti, Robert Arlt, Faulkner ou os maravilhos contos de Guimaraes Rosa de Corpo
de Baile ou Noites do Sertão, com sua violência latente e suas veladas relações
de poder na sociedade agrária mineira.
Igor
Zanoni
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