Hoje assisti no canal Futura um desenho encenando o poema
Morte e vida severina de João Cabral de Mello Neto, um dos mais importantes do
autor e da literatura brasileira. O desenho segue com fidelidade todos os
diálogos do poema, através da viagem que Severino faz por Pernambuco desde o
agreste até os mangues de Recife, procurando em cada lugar um trabalho, para
descobrir que os trabalhos disponíveis eram ligados à morte, carpir por um
morto, ser coveiro (há aí uma bela imagem de como os canteiros dos cemitérios
reproduzem as divisões sociais) até chegar á pergunta se não era melhor desistir
da vida já que a morte impregna a paisagem. A resposta obtém de um Severino
como ele, isto é, pobre e diluído na multidão até ter apenas um nome genérico
que designa a própria dimensão existencial do nordestino pobre. Ela vem
ensejada pelo nascimento de um menino, também pobre e com a condição humana já
marcada, mas que é um homem e que é expressão da vida. O sentido de uma vida
severina é afirmar a vida em toda circunstância, sobretudo quando a
circunstância torna o afirmar mais necessário. O desenho é em preto e branco,
criando sobre a forma gráfica dos poemas de cordel. Não vi o nome do autor do
desenho, que vale conferir de tão dramático e intenso, mais do que a leitura
individual pode ser.
Igor Zanoni
Nenhum comentário:
Postar um comentário