sexta-feira, 1 de fevereiro de 2013

Morte e vida severina



Hoje assisti no canal Futura um desenho encenando o poema Morte e vida severina de João Cabral de Mello Neto, um dos mais importantes do autor e da literatura brasileira. O desenho segue com fidelidade todos os diálogos do poema, através da viagem que Severino faz por Pernambuco desde o agreste até os mangues de Recife, procurando em cada lugar um trabalho, para descobrir que os trabalhos disponíveis eram ligados à morte, carpir por um morto, ser coveiro (há aí uma bela imagem de como os canteiros dos cemitérios reproduzem as divisões sociais) até chegar á pergunta se não era melhor desistir da vida já que a morte impregna a paisagem. A resposta obtém de um Severino como ele, isto é, pobre e diluído na multidão até ter apenas um nome genérico que designa a própria dimensão existencial do nordestino pobre. Ela vem ensejada pelo nascimento de um menino, também pobre e com a condição humana já marcada, mas que é um homem e que é expressão da vida. O sentido de uma vida severina é afirmar a vida em toda circunstância, sobretudo quando a circunstância torna o afirmar mais necessário. O desenho é em preto e branco, criando sobre a forma gráfica dos poemas de cordel. Não vi o nome do autor do desenho, que vale conferir de tão dramático e intenso, mais do que a leitura individual pode ser.

                                                    Igor Zanoni

                                                 

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