Conheci uma professora primária, já de alguma idade, mas bastante disposta. Gostava de dar aulas, lia Superinteressante e não perdia o Jornal Nacional. Saía no final de semana, conversava com os vizinhos, era uma pessoa com boa índole e boa formação. Um dia, porém, sofreu um pequeno enfarte, que a deixou muito deprimida e acamada por muitas semanas. Visitei-a muitas vezes, mas ela já falava pouco e, sobretudo, do que era importante no momento. Gostava de passar a madrugada, subitamente iluminada e vazia, ouvindo programas religiosos. Descobriu um outro modo de viver e novos problemas na vida, menos para serem resolvidos pela reflexão que pelo exercício paciente da atenção ao que ocorria. Descobriu aos poucos novos sentidos e novas consolações. Parece que muitos têm essa personalidade de reserva, oculta, sensível e acessível. Felizmente não somos só o que pensamos ou queremos.
Igor Zanoni
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