Instituto Pinel
no antigo Instituto Pinel, em Curitiba, hoje funcionando com outro nome, muitos amigos foram internados e eu mesmo fui atendido por um bom tempo. internava-se ali apenas quando uma pessoa não podia proteger-se e corria risco. ela ficava um tempo, era medicada, fazia sessões de psicoterapia individual e também sessões nas quais interagia com os demais
sob tratamento. a vida ali era dinâmica, dentro do tempo de descoberta de um sentido pessoal
e coletivo que não podia deixar de ser gratificante e necessário. na fragilidade que envolvia a todos, percebia-se um novo ser coletivo, mais por ser formado que por ser identificado. muitos tinham dificuldade de sair á rua, de cuidar-se em aspectos básicos, mas evitando uma duvidosa aura de doença, os médicos levavam todos a que se ajudassem no cotidiano. assim, os internos organizavam expedições coletivas ao supermercado, compravam coisas necessárias a partir de lista de compras e orçamentos, dividiam as despesas e se apoiavam ao atravessar o bairro. naquela época se reconhecia o papel limitado de psiquiatras e medicação, cada um reaprendia seus valores e formas possíveis e dinâmicas de perceber a vida e toma-la a seu encargo. a vida era menos quadrada, os problemas de todos eram de certa forma menores, ou mais compreendidos e reconhecidos, e a cooperação um princípio fundamental para muitos que até ali haviam vivido isolados e com pouca ou nenhuma esperança. não era a época de descobrir o sentido da vida, ou de nem pesar no assunto, nem de proteger-se em espaços fechados como esta ou aquela instituição e perspectiva existencial. havia mais abertura e aventura, nós sentíamos nas dificuldades uma gravidade alegre e a graça do tempo.
Igor Zanoni
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