entre os livros pouco coerentes de papai havia as
Meditações, de Marco Aurélio, em capa dura. dele lembro o aforisma: “ Este
homem me faz sofrer. Suprima estas palavras e teu mal será suprimido.” meu pai
tinha, além desse, vários livros então populares, como alguns volumes de
Krishnamurti e Augusto dos Anjos. não conversei nunca com ele sobre o que
achava destes autores, mas alguns livros conservei e estão na minha estante.
gosto muito de A Velhice do Padre Eterno, de Guerra Junqueiro, com o qual me
divertia muito por sua desmedida irreverência. muitos anos mais tarde meu
amigo, do Ipardes, Aloísio Raposo, explicou para mim o Padre Eterno. na
juventude de papai os medianamente instruídos como ele faziam sua educação
autodidata comprando tudo isso. meu pai foi um bom autodidata, apesar de sua
conhecida brabeza era um homem inteligente, qualidade que sempre aprecio nas
pessoas. depois pensei que os imperadores romanos eram terríveis muitas vezes,
como o próprio Marco Aurélio, mas gostavam de fazer filosofia e até poemas.
conversei sobre isso com meu amigo Newton, como os imperadores podiam ser tão
sanguinários e manter o poder, eu nunca
entendi mas o Newton explicou as tramas da nobreza romana e a concessão dada
aos imperadores para agirem desse modo brutal às vezes. também li um pouco
sobre isso em Gore Vidal e seu Juliano que o Zizo Domakoski me emprestou. e
assim o mundo se faz com homens e livros.
Igor Zanoni