quinta-feira, 31 de março de 2016

Imperadores





entre os livros pouco coerentes de papai havia as Meditações, de Marco Aurélio, em capa dura. dele lembro o aforisma: “ Este homem me faz sofrer. Suprima estas palavras e teu mal será suprimido.” meu pai tinha, além desse, vários livros então populares, como alguns volumes de Krishnamurti e Augusto dos Anjos. não conversei nunca com ele sobre o que achava destes autores, mas alguns livros conservei e estão na minha estante. gosto muito de A Velhice do Padre Eterno, de Guerra Junqueiro, com o qual me divertia muito por sua desmedida irreverência. muitos anos mais tarde meu amigo, do Ipardes, Aloísio Raposo, explicou para mim o Padre Eterno. na juventude de papai os medianamente instruídos como ele faziam sua educação autodidata comprando tudo isso. meu pai foi um bom autodidata, apesar de sua conhecida brabeza era um homem inteligente, qualidade que sempre aprecio nas pessoas. depois pensei que os imperadores romanos eram terríveis muitas vezes, como o próprio Marco Aurélio, mas gostavam de fazer filosofia e até poemas. conversei sobre isso com meu amigo Newton, como os imperadores podiam ser tão sanguinários e manter o poder, eu nunca entendi mas o Newton explicou as tramas da nobreza romana e a concessão dada aos imperadores para agirem desse modo brutal às vezes. também li um pouco sobre isso em Gore Vidal e seu Juliano que o Zizo Domakoski me emprestou. e assim o mundo se faz com homens e livros.



                                                                    Igor Zanoni

terça-feira, 29 de março de 2016

Horizonte perdido

cedo nos separamos
e nos cindimos
mas mal sabemos onde ficamos
apenas que há uma nostalgia
sem nome impossível dizer
nossa origem nossa criação
o desconhecido nos afastou e nos busca
como nós mesmos nos deixamos
e nos buscamos
entre ideias mal colocadas
e mitos que não reconhecemos
mas há sempre em nosso viver
uma falta que nos delata
falta de que?
como dizer a saudade
saudade de que?
aqui estamos onde?
e já não sabemos o que queríamos
e o que desejamos
assim é bem fácil estar distante
do horizonte perdido



                                                          Igor Zanoni

sábado, 26 de março de 2016

Música para inquietos



ao ouvir a Suíte Peer-Gynt
Quadros de uma Exposição
ou o Eugene Onegín
não sei logo do que se trata
delicadas brincadeiras
aproximação entre a beleza e o jogo
eram tão sérios complexos os poetas
como pensar tal encantada forma
de dizer de mesmos e de sua fortuna
melhor sorrir ser pensativo e sereno
mas isto não é passear por um jardim


                                              Igor Zanoni  

quinta-feira, 24 de março de 2016

Desejo


essa pessoa ao seu lado não pede
grandes efusões de amor
é tímida e se contenta
com o carinho cotidiano
de não muitos grandes problemas
raras encrencas mais sérias
talvez ande por um dia a dia
que a você mesmo é estranho
você com sua alma inquieta
e suas ambições mal medidas
ela gosta de um amigo calmo
que mesmo com suas dificuldades
busque uma tranquilidades de base
nestes dias inóspitos
que a humanidade vive
e seja capaz da calma e paciência
que sozinhas fazem de um amigo
um ser mais que desejável


                                                                  Igor Zanoni

terça-feira, 22 de março de 2016

On China

o eminente historiador e sinólogo norte-americano John King Fairbank escreveu no livro que sintetiza a pesquisa de sua vida : “The twentieth century has already seen more man made suffering, death, and assault on the environment than all previous centuries combined. Perhaps the Chinese have finally joined the great outside world just in time to participate in its colapse.” em  cerca de quarenta anos, desde a morte de Mao, a China mudou sua face econômica e social bem como sua inserção no planeta de muitos modos, mas a questão ambiental a ela associada afetou de modo singular todo o globo, pois mais de trinta por cento da poluição neste último deve-se à China, que junto com a dos EUA somam cerca de cinquenta por cento. o  Brasil, além de outros grandes países, não pode ser esquecido aí, pois é notável a crise ecológica que ele atravessa, da crise da água ao zika, que é uma manifestação também da degradação ambiental e das mutações que ela provoca. Também não nos faltam muitas outras formas de sofrimento, mais contemporâneas ou mais ancoradas em nosso passado. Como isso entra no debate político? Infelizmente o Brasil não tem para lidar com estes problemas uma população com valores historicamente pertinentes como a chinesa. não faltaria para nós um pouco mais do respeito confuciano pelos seres sencientes, seja um ser humano seja uma montanha carregada de minério?


                                                                    Igor Zanoni