domingo, 20 de março de 2016

Bacacheri



sentado em um banco feito com um tronco de árvore em frente ao laguinho do parque Bacacheri, pensei se as aves aquáticas que brincavam ali pensam no futuro. devem pensar, ao seu jeito. quando se tira um peixe da água ele se bate muito, briga por sua vida. também, quem viveu em um sítio, sabe como é difícil apanhar uma galinha para incrementar o almoço. mas, nesta urbe insensata em que as pessoas perdem longo tempo vendo televisão ou lendo jornais, como pensamos no futuro? carnavalizamos  debates cujo teor mal conhecemos, saímos à rua e brindamos ou cantamos um hino ou defendemos a democracia, ou algo no sentido contrário e parecido. qualquer atividade que nos coloque em contato com algo de fato mais próximo de nosso coração, que nos revele o que chamamos coração, certos ou não, tudo isto não tem valor. somos  um peixe na água, não nos tirem da água! enquanto estamos aqui tudo está bem, somos felizes e eternos, nem pensamos em ser ou ter, apenas vivemos no nosso músculo. mas se não somos peixes, e ainda gostamos de vida e de arte, que dissabor e indiferença nos esperam nesses tempos sem gosto e sem vitalidade?



                                                            Igor Zanoni

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