O gaúcho Airton Ortiz é um premiado jornalista de aventuras, com diversos livros narrando suas viagens pelo mundo. Neste “Pelos Caminhos do Tibete- Revelações na terra do Dalai Lama” ( Benvirá, 2017 ), ele narra uma viagem pelo Tibete com alguns companheiros, visitando Lhasa e voltando ao Nepal pela região dos Himalaias. Nesta nota lembro algumas observações que o autor faz sobre as relações Tibete-China. Na verdade, o Tibete é hoje uma região autônoma da China, tendo perdido sua plena independência depois da invasão chinesa de 1950 e do conflito sino-tibetano de 1959. Antes da invasão, segundo o autor, a população vivia sob leis opressivas de uma elite egoísta e conservadora, pouco preocupada com os reais problemas da nação. Havia um governo civil e uma elite budista em torno do Dalai-Lama, com uma população passando fome e frio no interior do país, cujo descontentamento facilitou a invasão do Exército chinês. O budismo amenizava essa situação com sua ética estrita, mas sua “tirania” teocrática cedeu lugar à “tirania” ideológica de Mao Tsé-Tung e a Revolução Cultural após 1966. Segundo um chinês com o qual o autor tem contato em um restaurante e que ele entrevista, os tibetanos são atrasados, rudes e supersticiosos, com um rudimentar sistema produtivo e infraestrutura, e a dominação da China busca promover na região progresso econômico e social. Esta é uma condição para proteger o Tibete de ataques estrangeiros, unificando o país e modernizando o país. Após a invasão chinesa o sistema feudal foi abolido e servos e escravos emancipados. Eles agora têm direitos e possuem suas próprias terras. A produção de grãos cresceu e Lhasa se tornou uma grande cidade, e a qualidade de vida dos tibetanos melhorou. Todavia, há problemas, como os arsenais nucleares que a China tem colocado na região, e a nova cultura tem pouco a ver com a religião budista componente da antiga cultura local. Segundo o Dalai Lama, “O ponto que se deve ter sempre em mente é que, em princípio, o objetivo da religião como um todo é tornar maia fácil o exercício do amor, da compaixão, da tolerância, da humildade, da capacidade de perdão e de todas as outras qualidades espirituais.” Embora o Tibete seja ainda budista, seu líder espiritual vive na Índia como refugiado, e a questão é até que ponto o desenvolvimento econômico pode substituir a profunda ética tradicional.
Igor Zanoni